quarta-feira, 27 de Julho de 2005
ERRÂNCIAS DA RAZÃO (código -ER): RESPOSTAS DE AC A PERGUNTAS DE AC
P - Em que argumentos se baseava a sua «crítica da ciência»?
R - Contra a ciência (código de files - cc) é uma rubrica muito espalhada pelos meus files de diversas épocas, mesmo aquelas em que me rendi às instâncias racionalistas e sergianas.
Mas onde a dicotomia apareceu clara foi com a ousadia de propor a ciência sagrada à ciência profana, ousadia que o estudo de Etienne Guillé e sua gnose vibratória incentivou.
P - Mas essa crítica do racionalismo vinha de trás? De onde precisamente?
R - Um dos pontos que marcaram a viragem terá sido a leitura de ensaios surrealistas e sobre surrealistas. E digo ensaios surrealistas porque o maior estímulo veio de pequenos textos de autores como Nora Mitrani (um folheto que provavelmente já não vou recuperer nunca),de Claude Roy (um texto sobre o maravilhoso que acabo de reler, fascinado!) e uma história do surrealismo de que já não me lembro o nome e que li na época do realismo fantástico (1960 e seguintes). O livro «Le Matin des Magiciens», de Louis Pauwels e Jacques Bergier foi para mim um terremoto mental, o que não significa que não tenha havido réplicas nesses tais textos comparativamente menores.
P - Mas essa pesquisa do maravilhoso e da desrazão já era em contraste com as ciências do sagrado?
R - Não, era uma forma reactiva às limitações (reduções) que eu cada vez mais sentia nos meus racionalistas de cabeceira: Bertrand Russell, António Sérgio, Raul Proença (com o ensaio sobre o eterno retorno), Santana Dionísio e, claro, o livro que para mim continua a ser o pivô de todas as minhas errâncias da razão, o livro que para mim continua perene:«Razão e Absoluto» de José Bacelar(edição Seara Nova).
Na minha biblioteca todos os outros títulos igualmente importantes na minha formação racionalista ortodoxa. Lamento ter escrito tão pouco sobre José Bacelar e lamento não poder recuperar os textos que ele escreveu nos anos da grande guerra como editoriais na «Seara Nova».
P - Como entrou o existencialismo em cena nesse quadro de «anti-razão»?
R - Talvez melhor, neste quadro de «desrazão» ou das «razões sem razão». É difícil de localizar, pois a minha perplexidade existencial vem desde sempre e foi consciencializada desde que, nos meus vinte anos, li Fernando Pessoa e Frederico Nietszche.
Só que os sergianismos têm essa peculiaridade: mascaram o fundo existencial das nossas preocupações/obsessões (a reabilitação «científica» que António Damásio tem feito das emoções aparece-me um tanto anacrónica e aí a ciência apresenta, mais uma vez, o seu lado oportunista, que francamente me irrita).
P - Tentando uma sinopse, diga-me nomes marcantes desse seu «afundamento» no existencial concreto?
São ainda bastantes, apesar de eu querer reduzir o número: Soren Kierkegaard, Fernando Pessoa, Leão Chestov, Cioran, Nietzsche, etc.
P - Além do racionalismo sergiano, uma outra corrente foi para si opressivamente dominante na classe dos intelectuais: o materialismo dialéctico. É assim?
R - Sim, sem dúvida e «opressivamente» é a palavra justa... Recordo o totalitarismo de Lukács (insultou Nietzsche de todas as formas) e alguns mais brandos como Roger Garaudy, Henri Lefebvre e o mais inteligente de todos, Maurice Merleau-Ponty, «Aventuras da Dialéctica», livro que infelizmente já não tenho na minha biblioteca do Gato.
Uma breve nota (file
Com esta variedade de big names (código - bn) o cocktail só podia resultar incomestível. Ou seja: a ideia ecológica espreitava, como um cheiro nauseabundo, de toda esta «mistura»
P - De relance, já falou de Wittgenstein. Então?
R - A referência precisa que tenho desse filósofo veio por via de uma grande amizade minha: era o autor de cabeceira do meu amigo João Carlos Passos Valente, que decidiu suicidar-se com 22 anos e que me deixou, entre outros, o conselho de ler esse homem terrível que é Witt.
Soube depois que já havia um filme sobre a vida deste filósofo. Não sei se vi.Tenho-o hoje na bruma das minhas memórias e não sei bem se ainda o conseguirei ler em textos didacticamente mais acessíveis do que as obras integrais do senhor Witt.
P - Na redescoberta do seu fundo existencial, qual a importância dos escritores de ficção?
R - A maior.Basta lembrar Albert Camus e Franz Kafka.
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