sábado, 3 de janeiro de 2009

PRÁTICAS 2012

1-3-imperial>-9226 caracteres - um inédito de 1975
5-10-1990

TÉCNICAS, ARTES E CIÊNCIAS TRADICIONAIS: ALTERNATIVAS AO IMPERIALISMO CULTURAL
MANIFESTO ECOREALISTA CONTRA TODOS OS MULTINACIONAIS-INTERNACIONALISMOS
MANIFESTO EM DEFESA DA CULTURA POPULAR E DA TECNOLOGIA ARTESANAL

Sumário:
- Imperialismo cultural e «homem unidimensional»
- Brecha na engrenagem unidimensional
- Tecnologias leves e tecnologias de aldeia
- Não há revolução cultural sem retorno ao antigo
- Recolher o que resta da tradição popular (artes e ofícios)
- A invasão do plástico
- A barbárie tecnocrática acusa-nos de reaccionários
- Sociedade paralela à engrenagem vigente
- Trabalho artesanal significará trabalho penoso?
- Trabalho criador versus trabalho automatizado
- Os falsos «postos de trabalho» criados pela indústria
- A crise e a autosuficiência das tecnologias artesanais

Quando o imperialismo cultural é cada vez mais veículo do imperialismo ideológico e este a ponta de lança do imperialismo económico
Quando, sob a capa do internacionalismo tecnológico, o que se pretende é apagar dos povos a sua consciência de independência nacional
Quando a tecnologia e a ciência, em vez da universalidade e do humanismo, o que impõem aos povos é um modelo «standart» de consumo pelo consumo, de desperdício pelo desperdício, de lixo pelo lixo
Quando a sociedade unidimensional e burocrática é o modelo que se pretende impor para substituir a personalidade de cada povo e a rica morfologia sócio-geográfica das culturas originais e tradicionais
Quando todo um aparelho repressivo de tirania e dominação cultural é comandado internamente por obedientes sucursais, por grupos elitistas, por minorias supostamente representativas da literatura, da arte, da ciência e da «intelligentzia» em geral
Quando a tecnologia artesanal se apresenta, regra geral, como lição ecológica a integrar num modelo de sabedoria económica de reaproveitamento e reciclagem(ecodesenvolvimento)
Quando as novas tecnologias leves preconizadas pelos movimentos de emancipação ecológica têm tudo a aprender com as artes e técnicas populares, durante séculos aperfeiçoadas e afeiçoadas à dimensão humana(«small is beautiful»)
Quando às energias hiperpoluentes, às tecnologias pesadas, à industrialização maciça, acelerada e concentracionária se procura responder com alternativas energéticas, tecnológicas e industriais que sirvam a dimensão social do trabalho em vez de o alienar e colonizar ainda mais

o realismo ecologista ou ecorealismo:
proclama absoluta solidarieade com o criador da cultura - o povo
reafirma que não há evolução cultural sem uma reaprendizagem das raízes e fontes originais, da língua, da indústria, das tecnologias, das artes, das lendas e das ciências populares
sublinha não só a urgente necessidade de conhecer e reconhecer essa realidade imensa que nos precede e antecede, não só a urgente necessidade de recolher o que resta da tradição popular, mas a necessidade igualmente urgente de lutar contra todas as formas de recuperação que a ordem tecnofascista fez e pretende continuar a fazer do património popular tradicional
denuncia o comércio que tem sido feito, em mercados ditos do povo, com o trabalho dos artistas populares, que só são chamados a colaborar quando o turista, conspícuo e cúpido, espreita a peça artesanal com seus dólares e a leva, por bom preço, para renegociar no seu país
[entende ser urgente avisar o povo - através de todos os meios de comunicação social - desta expoliação, ao mesmo tempo que o incita a valorizar, a tomar consciência e a defender aquilo que é seu e que é a sua própria riqueza ancestral]
perante a invasão plástica, do produto «standart» e do objecto estereotipado, perante a manufactura industrial, a uniformização e a despersonalização do trabalho, o realismo ecologista rejeita as acusações de reaccionário, retrógrado, saudosista ou passadista com que se pretende demover uma acção prospectiva desenvolvida a favor do passado vivo, da tradição viva, da cultura viva original que é fundamento, alento, reconforto e garante da própria revolução cultural e da própria independência nacional.

[Lembra-se, a propósito, de que maneira a história e a tradição do Vietname contribuiu, na resistência contra o imperialismo sangrento, para manter viva a coesão popular, a consciência nacional, a chama, a luta, a fé na vitória e na independência]

[ao mesmo tempo que repudia a recuperação fascista das tradições populares - onde o património cultural nacional foi assimilado a um nacionalismo racista, a um nacional socialismo, reforço dos privilégios das classes tradicionalmente exploradoras, desde a aristocracia rural (paradoxalmente agarrada a preservar os valores da cultura popular...) à burguesia urbana]

Ao mesmo tempo que rejeita a acusação de reaccionário, retrógrado, retorno às cavernas e à Idade Média,o realismo ecologista denuncia a barbárie tecnocrática, o regresso efectivamente acelerado à mais sombria nova Idade Média, a violência e a crueldade da sociedade unidimensional do industrialismo e do superdesenvolvimento, ideologia com a qual se pretende arrancar as raízes profundas da realidade e da resistência popular a todos os imperialismos que disputam a hegemonia sobre os povos
O ecorealismo reafirma a possibilidade - através de uma brecha aberta na sociedade unidimensional, através da sociedade paralela e das alternativas ecológicas - de uma dialéctica entre cultura popular e cultura erudita
O ecorealismo reafirma a possibilidade de aplicar utensílios, técnicas, artes, objectos e fainas de criação popular em termos de emancipação económica do trabalhador, contestando o fatalismo que pretende identificar técnicas artesanais de trabalho com trabalho penoso e com exploração económica do trabalhador
Nem sempre e nem só - reafirma o ecorealismo - o trabalho penoso é o trabalho artesanal

Aliciado com outras facilidades, com vida «mais civilizada«, com emprego mais certo (?), com conforto (?) e consumos mais modernos, o trabalhador é aliciado para centros industriais, onde acaba por ser usado em trabalhos igualmente penosos, com a agravante de ser um trabalho automatizado, despersonalizado, solitário, alienante, mecânico e desenraizado de um contexto ou habitat social compensatório e até mais salubre
Quanto à hipocrisia dos «postos de trabalho» criados - diz-se - pela indústria pesada(postos de trabalho que a desordem capitalista nunca garantiu e jamais garantirá), a condição sine qua non do pleno emprego não é a industrialização mas uma planificação socioecológica da economia, que não se limite a multiplicar indústrias e a encaixar nelas a mão de obra que vai tirar à agricultura, mas a praticar uma estratégia de qualidade de vida, na manutenção e cuidado da qual se criem efectivamente novos e múltiplos empregos.

Atendendo à crise do capitalismo industrial, à recessão, ao desemprego e à inflação, não é o reforço de uma sociedade industrial em crise que irá garantir empregos e ocupar gente mas uma sociedade paralela que crie e multiplique novas necessidades na qualidade de vida e na luta contra a mecanização.

A sociedade vivável paralela a esta ínvivável, desafia os técnicos da administração e da economia, a aplicar o engenho técnico na descoberta de soluções para a síntese entre sabedoria ou cultura popular e as aquisições, porventura de alguma utilidade, trazidas pela tecnologia moderna.
Mas essa dialéctica pressupõe que se destrua o poder tecnocrático, que é a ditadura monopolista da técnica moderna sobre as alternativas passadas, presentes e futuras que a esse monopólio se abrem.

Não é uma sociedade ideal, asseptizada, feliz, estável e sem contradições o que o ecorealismo preconiza, ao preconizar uma «sociedade paralela«: mas que nenhuma política (económica, agrícola, escolar, de saúde, energética, alimentar, de consumos, etc.) se pratique, de futuro, sem atender a necessidades ecológicas de base, aos princípios ecológicos que tudo condicionam
Não esquecer as últimas e decisivas forças das quais depende a sobrevivência humana - as forças e leis da Natureza - e não menosprezar uma sabedoria que, ao longo dos séculos, mais vivo contacto manteve com essas forças e leis - a cultura original de cada povo - é o que o ecorealismo preconiza, quando empreende a defesa da cultura, aquela realidade que mais perto se encontra das raízes, das fontes a da força dessas forças.
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(*)Porque não deram as personalidades que se dizem, entre nós, maçónicas, qualquer tipo de atenção a uma concepção do trabalho que valoriza intrinseca e profundamente as «artes e ofícios» em detrimento das «tecnologias plásticas ordinárias» e de toda a mentalidade consequente?
Há, de facto, qualquer coisa profundamente errada nestes maçónicos do grande oriente e outros que tais.
(**) Ver ensaio longo de ac «em defesa das indústrias artesanais»
(***) Neste texto esboça-se a posição do ecorealismo face a redes e mafias multinacionais internacionalistas, para quem a pátria é a do dinheiro ou dos negócios
(****) Atenção aos mitos internacionalistas e à mutação dos conceitos políticos: como a consciência cultural de cada povo pode alterar os esquemas estabelecidos das ideologias de uniforme.
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domingo, 19 de Janeiro de 2003

AUTOSUFICIÊNCIA IMPLICA SOLUÇÕES ECOLÓGICAS E UMA CIÊNCIA DO MEIO CONCRETO (NÃO ABSTRACTA)

15/7/1978 - Alguma literatura contestatária acusando influência de um certo folclore anarco-comunitário, reclama-se da arquitectura ecológica, do forno solar fabricado à mão, da bicicleta como meio de transporte democrático, etc...
Não é mal intencionada essa literatura, e há uma bibliografia abundante que já fornece uma verdadeira «enciclopédia para o militante radical".
«Manual da Vida Pobre" ou "Manual para os Tempos Difíceis", estamos perante uma verdadeira enciclopédia do Militante, tal a abundância bibliográfica já fabricada, nomeadamente nos Estados Unidos, na França e na Inglaterra.
Sem rejeitar esses contributos de boa vontade, há que notar, porém, o carácter fragmentário e de solução abstracta, universal, não ecológica que alguns desses receituários têm.
O importante, nas soluções de vida unitária e comunitária, é que a ciência e a tecnologia nascem de uma prática que funciona em relação imprescindível com as características do meio biofísico, porque e enquanto funciona numa estratégia de auto-suficiência.
A solução abstracta, universal, concentracionária, da ciência ordinária, acaba, ao fim e ao resto, por tornar a vida (com )unitária dependente de importações várias, desde o material e as matérias-primas até ao utensílio, ao objecto, ao artefacto, até aos alimentos e ao vestuário.
A lição da ciência popular sobrepõe-se, assim, à lição que porventura nos possam dar brilhantes "manuais do tempo futuro", precisamente porque a ciência e a tecnologia populares nasceram de uma necessidade profunda de autosuficiência, a qual imprimia, portanto, às soluções uma inevitável marca ecológica, concreta, local.
Falar da civilização do granito é falar dessa intrínseca unidade entre autosuficiência de materiais, ecologia e ( ciência ou) tecnologia popular.
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1-2-alternativas-1-aa-ie> artes alternativas – ideia ecológica inéditos ac
Quarta-feira, 16 de Julho de 2003

EDUCAR PARA A VIDA OU EDUCAR PARA A MORTE?

15/9/1976 - O sistema recupera tudo quanto ameace a sua ditadura sobre os homens.
A engrenagem trituradora apressa-se a ver o que constitui a semente da sua própria subversão para a deturpar primeiro, e depois comercializá-la (segunda forma de a deturpar e quase sempre liquidar).
A Ecologia entra na lista das disciplinas a abater e que, portanto, já foram, estão sendo ou vão ser cada vez mais recuperadas.
Bastava que lá estivesse o sufixo "logia'' para a tornar, desde logo, suspeita aos olhos de um militante radical. Tal como a parapsicologia, a análise energética, a antipsiquiatria, a etnologia e outras ciências que o sistema inventa para adiar a sua autodestruição iminente, entra a Ecologia no capítulo da ciência-alibi, da ciência-bóia-de-salvação.
Já repararam, com certeza, nos volumosos tratados que vão surgindo no mercado com gráficos estatísticos arrepiantes. Já repararam como a ciência estabelecida, mais uma vez, pela terminologia arrevezada, pela linguagem "esotérica", pelo calão técnico, pela superespecialização, tenta afastar da Ecologia o aprendiz militante.
Mais uma vez a ciência é deles, só eles a podem ministrar como sacerdotes encartados de mais este culto, como intermediários, medianeiros e vulgarizadores do excelso saber.
A classe universitária não quer que o poder do saber desça à rua. Acontece com a Ecologia, mas acontece com toda a investigação que se faça no sentido de subverter o sistema.
O que o sistema está fazendo para liquidar as "artes marciais" é digno de nota.
Basta abastardar a nobre arte do Zen, basta reduzi-la a mercadoria e a objecto vendável, basta fazê-la entrar no circuito do consumo para que tais artes e práticas, tais técnicas percam o poder subversivo de que estão animadas.
Sabiam, por exemplo, que o senhor René Dubos é catedrático de Biomedicina Ambiental na Rockfeller University? Ilustre ecólogo de reputação, serve ele de intermediário respeitado e respeitável para evitar que a Ecologia caia na rua, na mão de radicais ecomilitantes...
Na Psicosomática e seus catedráticos temos outro exemplo flagrante de como o sistema distrai, adia, recupera, abastarda para nunca a gente ver o fundo ao saco.
Tal como a Parapsicologia, a Etnologia e a Ecologia, reformula a Psicosomática os temas do Saber Primordial e da Tradição Primeira, para os "tratar" à sua maneira, para os filtrar e liofilizar, para os submeter à sua própria lei e ao exame da sua própria estrutura.
Para ser aceite no seio das famílias, esses assuntos ou fenómenos esotéricos, "insólitos', etc., têm que passar a provada ciência estabelecida. Ela é que determina como e se tais temas ou fenómenos são científicos e dignos de ser tomados em consideração...
No seio das famílias, o problema é de saber se vão "educar" as crianças nos sãos princípios desta Sofistica Tecnocrática, ou segundo a Lei da Sabedoria Infinita. Se vão educar as crianças para a Morte ou para a Vida.
Quando se diz que um militante é radical demais e que as coisas não são assim tão más, o militante responde que a opção, hoje, é apenas entre a Morte e a Vida. A morte que o Sistema oferece e a vida que oferecem as alternativas.
0 sistema está feito com a morte, o contra-sistema do militante radical está com a vida.
Trata-se de saber, para as famílias, se vão transmitir aos filhos os mitos e as mentiras que nos escravizaram a nós, durante vidas, durante gerações, durante eras, ou se vamos dar aos nossos filhos a oportunidade de evoluir, de criar um mundo de harmonia que nós não tivemos.
Mundo solar que espreita, de que há sinais evidentes, mundo que nasce entre flores e bombas, lágrimas e sorrisos, desespero e esperança, sismos e auroras boreais, mas que está nascendo já.
Mundo que não é possível construir em cima deste e dentro deste mas paralelamente a este.
Agrocomunas, bioagricultura, técnicas pobres, indústrias não poluentes, artesanato, criação de animais (para viverem connosco e não para abater), meditação, são sinais de um mundo solar que desponta.
Depois, as artes de curar: aprender a comer, a dormir, a respirar, a sonhar, a andar, a estar sentado, a olhar, a ver, a defender-se; aprender a transmutar o negativo em positivo; a suportar a dor e o sofrimento da violência, transformando-a em harmonia e sabedoria.
Nada disto, porém, nos será ensinado pelo ciência do Ocidente. Nada disto virá do sistema que nos escraviza e monopoliza com base nos mitos e crimes da sua infindável verborreia. Nada disto pode ser aprendido nas escolas que servem de suporte ao sistema, porque tudo isto subverte desde a raiz o sistema.

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