segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

CONSTANTES 2012

1-3- imperial >9226 caracteres um inédito de 1975 - técnicas, artes e ciências tradicionais - alternativas ao imperialismo cultural – os dossiês do silêncio

MANIFESTO ECOREALISTA CONTRA TODOS OS MULTINACIONAIS-INTERNACIONALISMOS/ MANIFESTO EM DEFESA DA CULTURA POPULAR E DA TECNOLOGIA ARTESANAL

Sumário:
- Imperialismo cultural e «homem unidimensional»
- Brecha na engrenagem unidimensional
- Tecnologias leves e tecnologias de aldeia
- Não há revolução cultural sem retorno ao antigo
- Recolher o que resta da tradição popular (artes e ofícios)
- A invasão do plástico
- A barbárie tecnocrática acusa-nos de reaccionários
- Sociedade paralela à engrenagem vigente
- Trabalho artesanal significará trabalho penoso?
- Trabalho criador versus trabalho automatizado
- Os falsos «postos de trabalho» criados pela indústria
- A crise e a autosuficiência das tecnologias artesanais

1975 - Quando o imperialismo cultural é cada vez mais veículo do imperialismo ideológico e este a ponta de lança do imperialismo económico
Quando, sob a capa do internacionalismo tecnológico, o que se pretende é apagar dos povos a sua consciência de independência nacional
Quando a tecnologia e a ciência, em vez da universalidade e do humanismo, o que impõem aos povos é um modelo «standart» de consumo pelo consumo, de desperdício pelo desperdício, de lixo pelo lixo
Quando a sociedade unidimensional e burocrática é o modelo que se pretende impor para substituir a personalidade de cada povo e a rica morfologia sócio-geográfica das culturas originais e tradicionais
Quando todo um aparelho repressivo de tirania e dominação cultural é comandado internamente por obedientes sucursais, por grupos elitistas, por minorias supostamente representativas da literatura, da arte, da ciência e da «intelligentzia» em geral
Quando a tecnologia artesanal se apresenta, regra geral, como lição ecológica a integrar num modelo de sabedoria económica de reaproveitamento e reciclagem (ecodesenvolvimento)
Quando as novas tecnologias leves preconizadas pelos movimentos de emancipação ecológica têm tudo a aprender com as artes e técnicas populares, durante séculos aperfeiçoadas e afeiçoadas à dimensão humana(«small is beautiful»)
Quando às energias hiperpoluentes, às tecnologias pesadas, à industrialização maciça, acelerada e concentracionária se procura responder com alternativas energéticas, tecnológicas e industriais que sirvam a dimensão social do trabalho em vez de o alienar e colonizar ainda mais

o realismo ecologista ou ecorealismo:
proclama absoluta solidariedade com o criador da cultura - o povo
reafirma que não há evolução cultural sem uma reaprendizagem das raízes e fontes originais, da língua, da indústria, das tecnologias, das artes, das lendas e das ciências populares
sublinha não só a urgente necessidade de conhecer e reconhecer essa realidade imensa que nos precede e antecede, não só a urgente necessidade de recolher o que resta da tradição popular, mas a necessidade igualmente urgente de lutar contra todas as formas de recuperação que a ordem tecnofascista fez e pretende continuar a fazer do património popular tradicional
denuncia o comércio que tem sido feito, em mercados ditos do povo, com o trabalho dos artistas populares, que só são chamados a colaborar quando o turista, conspícuo e cúpido, espreita a peça artesanal com seus dólares e a leva, por bom preço, para renegociar no seu país
[entende ser urgente avisar o povo - através de todos os meios de comunicação social - desta expoliação, ao mesmo tempo que o incita a valorizar, a tomar consciência e a defender aquilo que é seu e que é a sua própria riqueza ancestral]
perante a invasão plástica, do produto «standart» e do objecto estereotipado, perante a menufactura industrial, a uniformização e a despersonalização do trabalho, o realismo ecologista rejeita as acusações de reaccionário, retrógrado, saudosista ou passadista com que se pretende demover uma acção prospectiva desenvolvida a favor do passado vivo, da tradição viva, da cultura viva original que é fundamento, alento, reconforto e garante da própria revolução cultural e da própria independência nacional.

[Lembra-se, a propósito, de que maneira a história e a tradição do Vietname contribuiu, na resistência contra o imperialismo sangrento, para manter viva a coesão popular, a consciência nacional, a chama, a luta, a fé na vitória e na independência]

[ao mesmo tempo que repudia a recuperação fascista das tradições populares - onde o património cultural nacional foi assimilado a um nacionalismo racista, a um nacional socialismo, reforço dos privilégios das classes tradicionalmente exploradoras, desde a aristocracia rural (paradoxalmente agarrada a preservar os valores da cultura popular...) à burguesia urbana]

Ao mesmo tempo que rejeita a acusação de reaccionário, retrógrado, retorno às cavernas e à Idade Média, o realismo ecologista denuncia a barbárie tecnocrática, o regresso efectivamente acelerado à mais sombria nova Idade Média, a violência e a crueldade da sociedade unidimensional do industrialismo e do superdesenvolvimento, ideologia com a qual se pretende arrancar as raízes profundas da realidade e da resistência popular a todos os imperialismos que disputam a hegemonia sobre os povos
O ecorealismo reafirma a possibilidade - através de uma brecha aberta na sociedade unidimensional, através da sociedade paralela e das alternativas ecológicas - de uma dialéctica entre cultura popular e cultura erudita
O ecorealismo reafirma a possibilidade de aplicar utensílios, técnicas, artes, objectos e fainas de criação popular em termos de emancipação económica do trabalhador, contestando o fatalismo que pretende identificar técnicas artesanais de trabalho com trabalho penoso e com exploração económica do trabalhador
Nem sempre e nem só - reafirma o ecorealismo - o trabalho penoso é o trabalho artesanal

Aliciado com outras facilidades, com vida «mais civilizada«, com emprego mais certo (?), com conforto (?) e consumos mais modernos, o trabalhador é aliciado para centros industriais, onde acaba por ser usado em trabalhos igualmente penosos, com a agravante de ser um trabalho automatizado, despersonalizado, solitário, alienante, mecânico e desenraizado de um contexto ou habitat social compensatório e até mais salubre
Quanto à hipocrisia dos «postos de trabalho» criados - diz-se - pela indústria pesada(postos de trabalho que a desordem capitalista nunca garantiu e jamais garantirá), a condição sine qua non do pleno emprego não é a industrialização mas uma planificação socioecológica da economia, que não se limite a multiplicar indústrias e a encaixar nelas a mão de obra que vai tirar à agricultura, mas a praticar uma estratégia de qualidade de vida, na manutenção e cuidado da qual se criem efectivamente novos e múltiplos empregos.

Atendendo à crise do capitalismo industrial, à recessão, ao desemprego e à inflação, não é o reforço de uma sociedade industrial em crise que irá garantir empregos e ocupar gente mas uma sociedade paralela que crie e multiplique novas necessidades na qualidade de vida e na luta contra a mecanização.

A sociedade vivável paralela a esta invivável, desafia os técnicos da administração e da economia, a aplicar o engenho técnico na descoberta de soluções para a síntese entre sabedoria ou cultura popular e as aquisições, porventura de alguma utilidade, trazidas pela tecnologia moderna.
Mas essa dialéctica pressupõe que se destrua o poder tecnocrático, que é a ditadura monopolista da técnica moderna sobre as alternativas passadas, presentes e futuras que a esse monopólio se abrem.

Não é uma sociedade ideal, asseptizada, feliz, estável e sem contradições o que o ecorealismo preconiza, ao preconizar uma «sociedade paralela«: mas que nenhuma política (económica, agrícola, escolar, de saúde, energética, alimentar, de consumos, etc.) se pratique, de futuro, sem atender a necessidades ecológicas de base, aos princípios ecológicos que tudo condicionam
Não esquecer as últimas e decisivas forças das quais depende a sobrevivência humana - as forças e leis da Natureza - e não menosprezar uma sabedoria que, ao longo dos séculos, mais vivo contacto manteve com essas forças e leis - a cultura original de cada povo - é o que o ecorealismo preconiza, quando empreende a defesa da cultura, aquela realidade que mais perto se encontra das raízes, das fontes a da força dessas forças.
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(*)Porque não deram as personalidades que se dizem, entre nós, maçónicas, qualquer tipo de atenção a uma concepção do trabalho que valoriza intrínseca e profundamente as «artes e ofícios» em detrimento das «tecnologias plásticas ordinárias» e de toda a mentalidade consequente?
Há, de facto, qualquer coisa profundamente errada nestes maçónicos do grande oriente e outros que tais.-
(**) Ver ensaio longo de ac «em defesa das indústrias artesanais»
(***) Neste texto esboça-se a posição do ecorealismo face a redes e mafias multinacionais internacionalistas, para quem a pátria é a do dinheiro ou dos negócios
(****) Atenção aos mitos internacionalistas e à mutação dos conceitos políticos: como a consciência cultural de cada povo pode alterar os esquemas estabelecidos das ideologias de uniforme