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VOLTA AO MUNDO DAS ECO-ENERGIAS
As notícias a seguir transcritas do semanário «Gazeta do Sul» (Montijo), são de 1984, já lá vão portanto 22 anos .
Uma ilacção se impõe. Em matéria de política energética, a pastorícia não se verifica apenas em Portugal: há uma razão profunda (que a mim me escapa) para menosprezar o que tão avisadas autoridades – como a NASA – andaram pregando, à maneira dos militantes, no deserto.
O deserto internacionalizou-se ou, como agora se diz, globalizou-se.
Só quero sublinhar, em sinal de gratidão, que o semanário «Gazeta do Sul» era então dirigido pelo meu querido amigo Dr. Rocha Barbosa, já falecido, sempre pronto a publicar os textos que eu lhe enviava.
Eis o texto:
Sábado, 18 de Agosto de 1984, in «GAZETA DO SUL»
«VOLTA AO MUNDO DAS ECO-ENERGIAS
«Poderá ser criado em Cabo Verde um centro mundial de investigação sobre energia eólica.
Esta hipótese foi confirmada em fins de Maio de 1979 por um porta-voz do Governo da Praia, mas já fora apresentada, em Novembro de 1978, numa reunião, em Amsterdão, do Comité Inter-Estados de Luta Contra a Seca no Sahel (CILSS).
A proposta de um centro mundial permanente de investigação aplicada sobre a energia eólica nas Ilhas de Cabo Verde fora apresentado nos três países membros do «Grupo dos Amigos do Sahel», França, Holanda e Alemanha Federal, a que se associou o Banco Oeste-Africano do Desenvolvimento.
Inserida num estudo sobre «a Estratégia de Desenvolvimento do Sahel, a proposta recomenda que os países doadores, fundos internacionais e organismos internacionais devem ajudar Cabo Verde na criação deste Centro, primeiro de nível regional e depois de âmbito mundial.
Uma missão de estudo «in loco» das potencialidade de exploração de energias não convencionais deslocou-se então à Ilha de Santiago, apoiada por uma delegação técnica do Comité Inter-Estados de Luta Contra a Seca no Sahel.
A presença em Cabo Verde de ventos fortes e estáveis, o carácter isolado do arquipélago, a falta de água, a forte motivação dos habitantes e a existência de técnicos nacionais competentes tudo isto foi indicado, bem como uma sólida tradição local no aproveitamento eólico, como argumentos favoráveis ao projecto do centro mundial de investigação.
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«Dezenas de milhar de moinhos gigantes para produzir energia eléctrica, é hipótese levantada em Maio de 1980 pela NASA.
Com efeito, a Agência Espacial Norte-americana afirma que, algumas dezenas de milhar de moinhos gigantes - com torres de 30 a 60 metros de altura - poderiam fornecer um terço das necessidades de energia dos Estados Unidos.
Utilizando a actual tecnologia, cerca de 90 mil moinhos de concepção avançada, agrupados em «quintas de produção de energia», poderiam fornecer electricidade a preços competitivos, de acordo com o chefe da
divisão de Energia Eólica e Estacionária, William Robbins, da Administração Aeronáutica e Espacial (NASA).
A NASA completou o trabalho de concepção da segunda geração de uma estrutura avançada de moinho de vento e vai construir três aparelhos do género em Goodnoe Hills, Washington.
Eles podem ser colocados em qualquer parte, disse Robbins mas os melhores locais nos Estados Unidos são as grandes planícies, ou as montanhas rochosas e a Costa Ocidental.
A NASA começou o programa de moinhos em 1973, tendo como objectivo produzir energia barata.
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«A bicicleta como mero de transporte para economizar petróleo, é defendida em Washington pelo Secretariado dos Transportes dos Estados Unidos, Neli Goldschmidt, a 23 de Abril de 1980.
Em sua opinião, se um a dois milhões de americanos decidirem utilizar a bicicleta em vez da viatura para se dirigir ao trabalho, conseguir-se-ia uma economia de 7 milhões a 12 milhões de barris de petróleo por ano.
Segundo um estudo oficial, em 4 milhões de americanos que, em 1975, teriam podido servir-se da bicicleta no caminho para o trabalho, só 470 mil o teriam efectivamente feito.
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«Reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e proporcionar melhor qualidade de vida foram os dois temas de um seminário, iniciado em 17 de Abril de 1980, em Gainsville nos Estados Unidos, e em que participaram estudantes de vinte países do Terceiro Mundo.
Antes dos alunos serem aceites neste Seminário, os governos dos respectivos países tiveram de certificar que os conhecimentos por eles adquiridos no Seminário de Gainsville serão utilizados de forma prática. Dos 87 alunos inscritos, apenas 34 foram seleccionados.
O programa e despesas de manutenção dos estudantes foram inteiramente cobertos pela agência norte-americana para o desenvolvimento internacional, organismo dependente da secretaria de estado que dedicou para o efeito dois milhões de dólares.
Erich Farber, pioneiro investigador da Universidade da Florida, esclareceu que os instrutores do Seminário não indicariam aos seus alunos o que fazer mas sim como aproveitar melhor os recursos naturais nos países respectivos.
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«Utilizar um navio veleiro para transporte de carga é hipótese levantada em Agosto de 1979 por um armador da República Federal da Alemanha, que estaria disposto a construir um protótipo de veleiro/cargueiro, caso o Governo lhe concedesse auxílio.
A notícia foi revelada pelo seminário alemão «Der Spiegel».
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«A captação de energia solar com o céu encoberto foi anunciada na Alemanha Federal em Janeiro de 1979.
O Instituto Fraunhofer de Física Aplicada de Corpos Sólidos, em Friburgo, revela que tem estado a desenvolver um novo processo que permite produzir corrente eléctrica à base de energia solar, mesmo com o céu encoberto.
O novo colector da energia solar consiste numa lâmina transparente de plexiglas, na qual se colocaram determinadas moléculas de cores. A luz difusa proveniente do Sol origina fluorescência das moléculas de cores e é enfeixada até sair nas superfícies de corte de lâmina de vidro e captada por células solares.
O índice de eficiência dessas células pode ainda ser elevado pela decomposição do espectro solar, sendo as diferentes cores captadas por células solares diferentes (azul, vermelho, infra-vermelho).
O produto final, após dois anos de trabalhos, poderia vir a ser um colector híbrido, que transformaria 15 por cento da energia solar captada em corrente eléctrica e 85 por cento em energia calórica, o que corresponde à relação do consumo de energia em casas de habitação.
Adolf Goetzberger, director do Instituto de Fraunhofer, participou que o novo processo permitirá produzir correntes eléctricas à base de energia solar a um custo cinquenta vezes inferior ao de outros processos até agora conhecidos.»»