domingo, 28 de dezembro de 2008

IDEIAS AC 2012

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24-01-2007

A IDEIA ECOLÓGICA E SEUS MILITANTES

O militante da ideia ecológica, em 2006, tem todo o direito de se considerar investido de uma «missão»: talvez não seja a de salvar o mundo ou as almas, que é uma meta demasiado ambiciosa, mas contribuir, grão de pó perdido no espaço, para ajudar o «imperativo cósmico» a realizar-se.
Potencialmente e segundo os dados das biocosmologias ancestrais e modernas (aquilo a que a Astronomia científica chama «precessão dos equinócios»), a Era do Aquário está aí e podemos (devemos?) aproveitá-la. O eco-militante encontra-se na primeira fila dessa acção: que dantes, nos tempos heróicos do Movimento Ecológico Português (M.E.P.), do jornal «Frente Ecológica» e da «Ecologia em Diálogo» (na rádio), se traduzia nas famosas «manifs» e «agitações de rua» mas que hoje tem um estilo de actuação mais concreto e ao mesmo tempo mais profundo.
«Pensar globalmente e agir localmente» - lema desses anos pioneiros - tem hoje a sua expressão nos grupos locais de activistas, entre os quais a rede Quercus se destaca e continua, dia a dia, a desenvolver-se. Pessoalmente não concordo com algumas tácticas pontuais utilizadas – uma certa obsessão das chamadas «acções cautelares», por exemplo, – mas na estratégia em geral acho que fazem um bom, um belíssimo trabalho.
Dos jornais e telejornais também não nos podemos queixar: nesse campo, como em tantos outros, temos o que (colectivamente) merecemos. E as excepções confirmam a regra. O gigantesco sistema dos media rege-se por leis internas para manter a sua homogeneidade: e o recurso ao chamado «debate», tratando-se da ideia ecológica, é apenas uma forma de cobrir e encobrir aquilo que o sistema não pode deixar de fazer, na sua inércia interna.
Os mídia têm obrigação de ajudar mas é evidente que a ideia ecológica só pode ser defendida em profundidade por militantes franco-atiradores e por autores individuais com a necessária independência de voz e de pensamento: que o jornalista profissional, por exemplo, não tem nem pode ter. Não é essa a sua obrigação, não é essa a sua função, não é essa a sua missão, pelo menos enquanto redactor de notícias, entrevistas e reportagens.
Fora das horas de serviço, ele tem todo o direito de se dedicar à militância ecologista como cidadão. No jornalismo, se o deixarem ter uma coluna de opinião, poderá expor as suas ideias mais genuínas e a sua orientação ideológica.
Considero-me um tipo feliz porque nos jornais onde andei me deram sempre essa dupla oportunidade:
a)fazer jornalismo de ambiente, com as limitações necessárias ao trabalho de
informação que se reclama de alguma objectividade;
b) manter uma coluna de opinião onde tentava ser o militante anarco-libertário que não podia nem devia ser no trabalho jornalístico.
Lembro aqui, com enorme gratidão, as oportunidades que, em ambos os sentidos, me foram dadas nos jornais por onde andei: «O Século» (onde publiquei dezenas de reportagens sobre o ambiente - o «verde» e o «negro» deste país); «O Século Ilustrado» (onde publiquei reportagens, entrevistas, separatas sobre temas de ambiente e uma coluna «O Futuro em Questão» sobre Eco-prospectiva); «Portugal Hoje» (onde, entre outras novidades, me deixaram fazer coisas sobre «ecologia do trabalho»); «A Capital» onde entrei por empenho do Rudolfo Iriarte, que me convidou para escrever uma coluna semanal, aos sábados, sobre ambiente. Ainda hoje não compreendo como isso foi possível, mas a verdade é que a «Crónica do Planeta Terra» durou 12 anos...E onde nunca houve a mais pequena restrição às minhas opiniões de militante.
Inclusive deixaram-me entreabrir aquilo a que chamei os «dossiês do silêncio», temas que se foram tornando cada vez mais tabus e de que pouco ou nada se falava e se fala ainda hoje.
Era giro que a nova geração de jornalistas (especialmente senhoras que estão a fazer um trabalho brilhante em jornais de grande circulação) se interessasse em desvendar esses dossiês secretos e já que também nos encontramos em tempo de decifrar códigos e segredos... Ao que parece, os best sellers dão bons lucros aos editores.
Militantes da Esperança, precisam-se.
E já só temos seis anos da Era Cristã para mostrar o que valemos.
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24-01-2007

O CATASTROFISMO VIROU MODA E IDEOLOGIA POLÍTICA

Nos anos após o 25 de Abril de 1974 (durante o chamado PREC, processo revolucionário em curso), o militante da ideia ecológica era considerado um «alarmista» e um desmancha prazeres, quando não era um retinto fascista que não respeitava o progresso tecnológico e todas as megalomanias dos megaprojectos. Dominava e predominava o discurso dos «amanhãs que cantam» com as tecnologias de ponta e as indústrias pesadas e hiperpoluentes a comandar a procissão. Sines e Alqueva superavam Nossa Senhora de Fátima em capacidade milagreira de nos resolver todos os problemas.
Depois, ainda no calor da guerra fria, quando os partidos verdes começaram a florescer na Europa (França e Alemanha) já era de bom tom que um partido se debruçasse (sem cair) sobre o ambiente, sempre na perspectiva reformista da anti-poluição que muito pouco tem a ver com uma ideia ecológica de fundo (prospectiva, preventiva e profiláctica), mais tarde descoberta sob a designação de «deep ecology».
O Partido Verde, criado pelo PCP e que começou por usar o nome de Movimento Ecológico Português (associação criada em 1975 e com estatutos publicados no Diário da República) chegou à Assembleia da República. Muitos anos depois, com o Partido da Terra, malogrou-se uma esperança: a de um partido independente de outros partidos. Paulo Trancoso, Ribeiro Telles, Delgado Domingos trabalharam por isso mas a conjuntura já não lhes era favorável e tiveram que se socorrer de um partido dominante para ganhar dois lugares na A.R., onde aliás têm feito um trabalho notável.
Tal como sempre quis o José Carlos Marques (que chegou a ser candidato à Presidência da República) os ambientalistas não se dão bem dentro de estruturas partidárias. Sentem-se melhor em rede. A Quercus é o melhor exemplo, com saldo positivo.
Curiosamente, a situação hoje é inversa da dos anos heróicos e pioneiros do movimento ecológico: ainda se rotula (embora menos) o eco-militante de alarmista, derrotista ou catastrofista, mas em contra-partida o discurso dominante em todos os sectores (e nem só no ambiente) é apocalíptico e catastrofista. O catastrofismo virou moda e ideologia política.
O militante da ideia ecologista, hoje, em que todos só falam em desgraças, vírus e aquecimentos globais, deverá estar na primeira linha para contrariar esta «onda negra» que hoje invade os mídia, multiplicadores de um estado depressivo e desesperado.
Provavelmente o Planeta Terra não vai ter muitos anos de vida e até ao dia 21 de Dezembro de 2012, segundo o calendário maia, iremos receber, tranquilamente, do Cosmos todos os sinais necessários e suficientes para saber o que fazer, individual e colectivamente.
Atenção, portanto, aos sinais que terão de ser descodificados, num tempo em que os códigos estão tanto na moda e se vendem tão bem.
Ajudar o Cosmos e a ordem cósmica nesse «imperativo» (paradigma) ao qual ninguém pode fugir e que nos é dado de bandeja, poderá ser hoje a missão do militante e do jornalismo militante.
O catastrofismo e negativismo de que nos acusavam nos tempos heróicos do movimento, pode e deve ser contrabalançado por todas as alternativas de vida que também foram sendo proclamadas (embora com menos veemência) pela ideia ecológica e seus militantes.
Se o ambientalismo casuístico é necessário e continua a ter um papel (reformista, digamos), alargar o horizonte da Terra até ao que chamo «imperativo cósmico» torna-se urgente. Até 21 de Dezembro de 2012, temos seis anos...
Tempo que as carpideiras do Juízo Final e os epígonos do apocalipse vão aproveitar para aumentar e multiplicar o estado de entropia do sistema que nos fez chegar exactamente aos apuros em que hoje nos encontramos: lutar pela neguentropia crescente que o potencial cósmico (macro e microcósmico) nos oferece de bandeja (com o nome lindíssimo de Era do Aquário), pode ser a melhor missão do militante e do jornalismo militante.

IDEOLOGIA DO SUSTO

Hoje todos tocam, como um disco riscado, a melodia da catástrofe que está na moda mediática e pelos vistos rende mais lucros. Economistas (com uma nova estatística todos os dias) e cientistas (com uma nova gripe das aves aterradora, dia sim dia não) alimentam os mídia.
As seitas apocalípticas, com milhões de fiéis e um poder financeiro superior a muitos estados, debitam o mesmo discurso aterrador, onde o pior do pior é sempre notícia de página e o melhor do melhor uma nota de rodapé (quando é).
Segundo a contabilidade deles, o medo parece que é lucrativo e os mídia investem no medo. No panorama internacional de canais que nos chegam por cabo, existe, que eu saiba, uma única excepção: o Canal Infinito, produzido na Argentina e que há seis meses nos chega em português. Espero que não acabem com ele: porque isso sim, seria, quanto a mim, o apocalipse. Ficaríamos exclusivamente entregues aos lobos esfaimados da destruição. Valia a pena o militante aperceber-se dessa voz no deserto: tal como nos tempos heróicos do movimento ecológico, sabemos bem dar valor à voz que prega no deserto.
Desde sempre se sabe que o desespero paralisa a acção: o que querem os lobbies da destruição (agora encabeçados, entre nós, pelo apocalipse da biomassa - 15 centrais 15!, depois do rotundo fracasso do lobby pró-nuclear) é precisamente o catastrofismo convertido em ideologia política. Porque eles, afinal, com suas loucuras e barbaridades, é que nos irão «salvar» de todas as crises e catástrofes.
Compete ao militante e ao jornalismo militante não se deixar indrominar por estes salvadores da pátria, do mundo e das almas.
Essa é a missão do militante até 2012: não se deixar indrominar e não indrominar os seus compatriotas.
«Manipulai-vos uns aos outros» era um slogan dos tempos heróicos que o militante nunca aceitou e que deve continuar a não aceitar. Eles que se manipulem uns aos outros (com alguns, poucos, jornalistas a ajudar em livros sobre o futuro radioso do Nuclear), que se comam uns aos outros e que nos deixem a nós em paz : são os meus votos de ano novo.
Como sou obscurantista, segundo alguns especialistas do nosso meio ambiente (vide Ambio Archives), ainda levo muito a sério a batalha entre a Luz e as Trevas, a grande batalha do Armagedão.
Por isso digo: militantes da Grande Esperança, precisam-se.
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terça-feira, 18 de Fevereiro de 2003

RESPOSTAS DE AFONSO CAUTELA A PERGUNTAS QUE ALGUÉM LHE FEZ EM 1992

QUANDO HÁ DOIS ANOS

Quando há dois anos, o jornalista Afonso Cautela doou à Escola Secundária de Paço de Arcos a sua biblioteca de ecologia, organizada ao longo de 20 anos, nada quis dizer ao nosso jornal sobre a motivação desse gesto.
«Esses 2.000 livros podem ser mais úteis à Comunidade se estiverem na Escola, do que aqui em casa» foi apenas o que na altura lhe ouvimos. Afinal, era apenas o fim de um ciclo e o princípio de outro. Deixara de acreditar na Natureza para ter mais certezas sobre o Espírito.
Em conversa informal, hoje que a ecologia até já se vende nos detergentes e nos pesticidas, Afonso Cautela deixa-nos hoje algumas pistas sobre o que pensa do ecologismo como movimento social e da ecologia como matéria interdisciplinar que já é nas escola
s.

- Acha que na base da ideia ecológica está um pressentimento de catástrofe?
- Sobre os tempos que estão a chegar (vulgo: Apocalipse), confesso que estou um bocado aflito. O mundo moderno assusta-me com a sua barbárie. A ciência e a tecnologia de ponta assustam-me: e o «crash» na bolsa de Nova Iorque pode acontecer de um segundo para o outro. Nesse momento, será a hecatombe em todo o mundo ocidental: e nenhum de nós está minimamente preparado para sobreviver em clima de terceiro mundo. Mas tenho muita fé em Deus e na Banca Internacional: espero bem que os grandes cérebros do capitalismo tenham preparado uma estratégia que, no minuto final, evite a derrocada. Acho mesmo que os grandes banqueiros sabem a data certa em que o «crash» vai acontecer: nós, sempre inocentes, é que não sabemos e vamos ser apanhados de surpresa com as calças na mão.
- Nesse caso, qual a saída?
- Se, com o Apocalipse à porta, já não vamos a tempo de salvar a pele, então o mais avisado (e pragmático) será mesmo tentar salvar a alma. Daí que tenho aderido de alma e coração à ideia religiosa fundamentalista: ou seja, à saída vertical do atoleiro. Na horizontal, já não vamos a tempo. Toda a política do ambiente e todos os grupos de defesa do ambiente, fazem-me pena: estão convencidos de que ainda vão a tempo de salvar alguma coisa. Mas já nada no Planeta Terra pode ser salvo: como há 20 anos, a destruição acelera cada vez mais e não há um único exemplo de que tenha travado ou abrandado a marcha para o abismo. As presidências abertas sobre Ambiente são mesmo patéticas: o Poder sabe perfeitamente o que fez e o que continua fazendo para nos afundar no Chafurdo. Depois de nos sugar até ao tutano. É de uma suprema hipocrisia ainda vir cantar hinos de louvor à Natureza. E aos animais coitadinhos, tão engraçadinhos.

- Mas como é que se salva a alma?
- Considero-me um empresário de ideias e o único investimento que me importa fazer nesse ramo - da alma - é naquilo que designo hoje por Nova Idade de Ouro ou projecto 3º Milénio: nunca, desde há 41 anos, as condições cósmicas foram tão favoráveis ao advento do Paraíso. Nunca estivemos tão perto de tocar a Luz: e, no entanto, nunca se perfilaram tantas bestas para nos abortar tamanha chance. Esta - a da ponte para o terceiro milénio - é a única grande guerra que (me) interessa travar. Encontrei um estupendo companheiro de jornada: Etienne Guillé, professor da Sorbonne, biologista molecular, investigador do Cancro, matemático, uma sumidade em termodinâmica. Entre outros livros verdadeiramente prodigiosos, publicou em Agosto último «L'Homme entre Ciel et Terre» que, além de ser o maior tratado de Ecologia Profunda jamais escrito, é também o mapa completo sobre o percurso labiríntico a percorrer rumo à tal démarche que lhe falei: a salvação da alma e já que a salvação da pele é cada vez mais problemática. Desta é que sou hoje militante: da caquinha ecologista e seus maus cheiros, estou um bocadinho farto. E continuo a acreditar no ser humano, como a morada mais preciosa onde deus pode habitar. Mas onde, neste momento, não habita.

- Se colectivamente se pode fazer pouco, há algum caminho (de salvação) individual?
- A partir do momento em que os «opinion makers» chamam saúde ao que é doença, progresso ao que é retrocesso, desenvolvimento ao que é pura e simplesmente destruição e terror, a lógica da perversidade está em marcha e não vai parar. Com a ajuda mediática, vai acelerar. Só irá parar quando estivermos todos no fundo. Incluindo o deputado Almeida Santos que escreveu um livro a defender os dinossauros e a vituperar os fundamentalistas da Ecologia como eu. Afinal a «deep ecology» - que foi sempre a minha, desde tenra idade - até é hoje uma corrente respeitável e possivelmente terá algum representante no Parlamento de algum país europeu. Aqui na terrinha dos navegadores é que continuam a insultar-se os fundamentalismos: acontece que sou fundamentalista/integrista e que preferia ter um primeiro-ministro da Jiad islâmica, por exemplo, do que aquele que tenho. Aliás, o mundo será muçulmano muito mais cedo do que se pensa e eu já estou a preparar-me, lendo todos os dias os contos da mil e uma noites. Que, ainda por cima, são afrodisíacos à brava. E lindos de morrer.

- Depois da sua doação de livros à escola, ficou livre do que chamou «lixo papelístico»?
- Tenho um pequeno problema de «know-how» a resolver: não sei o que hei-de fazer, a quem doar, as 20 caixas Inapa cheias de folhas A4 com o Banco de Ideias que fui acumulando desde 1969, ano em que publiquei o primeiro livro sobre ecologia aparecido em Portugal: «O Suicídio da Humanidade». Depois foi o Movimento Ecológico Português e foi a «Frente Ecológica»: com o 25 de Abril, as ideias foram-se desvalorizando na Bolsa de Valores e eu entrei em bancarrota: só produzia ideias que não davam dinheiro. Arruinei-me e acumulei uma dívida ao fisco que já não posso pagar, nem mesmo em prestações. Quem quererá hoje aceitar, ou comprar, esse património que, com o Apocalipse à porta, se arrisca de património histórico a ser património arqueológico?

- Ainda é contra o desperdício e ainda o preocupa a conservação, portanto, que é uma ideia essencialmente ecológica?
- Segundo me informaram na Sociedade Portuguesa de Autores, onde recorri para registar as ideias e projectos que me foram roubando ao longo dos anos, a lei não prevê qualquer medida de segurança e de salvaguarda ao copyright de «ideias». Na dita SPA - que construiu um arranha-céus em cima das ideias dos autores - nem sabiam mesmo o que era isso de «ideias»: ali só se protegem obras, ou autores com obra feita, e não autores (como eu) de projectos com ideias. Para a televisão, por exemplo, rejeitaram-me umas duas ou três ideias, que meses mais tarde apareciam realizadas por outros. Acho que isto é hoje corrente e a mim aconteceu-me por toda a parte - editores, rádios, jornais, televisão - a quem propus guiões com ideias. Ofereço-os agora a quem der mais. Não é o Crédit Lyonnais quem dá mais? Ou será a «Forum Ambiente»?

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