domingo, 28 de dezembro de 2008

HORIZONTE 2012

1-3-recursos-1-ie = ideia ecológica– artes alternativas - os dossiês do silêncio
domingo, 19 de Janeiro de 2003

TECNOLOGIA LIBERTADORA E OS RECURSOS QUE TEMOS(*)

(*) Este texto  foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 21/5/1988

1 - À luz dos recursos vivos e naturais que o progresso vai delapidando, os conceitos de crescimento económico e desenvolvimento industrial começam a ficar comprometidos face à opinião pública.
Se se fala de recursos e em aproveitar recursos, não faz sentido que o mais importante recurso que é o lixo ou desperdício se continue a deitar fora.
Se se fala em recursos, não se justifica então que o biogás - a partir do grande recurso nacional que é o excremento animal - continue a contar com a má vontade sistemática de técnicos e políticos.
Se se fala em aproveitar recursos, devia ver-se que várzeas fertilíssimas têm sido destruídas com o desenvolvimento urbano de cidades como Lisboa, ou de grandes complexos industriais como o de Sines.
Respeitar os recursos devia incluir a manutenção de recursos humanos que são as artes e os ofícios sistematicamente sacrificados aos mitos da rendibilidade capitalista ou socialista.
Se se fala de recursos e de viver com o que temos, porque se deixa crescer o moliço na Ria de Aveiro sem o recolher, só porque ele constitui um fertilizante orgânico de primeira ordem e portanto um concorrente dos adubos ?
Se se fala de recursos, porque se têm sacrificado solos fertilíssimos com plantações de eucaliptos e porque se arrasaram serras inteiras como a serra de Ossa que sucumbiu a 11 milhões de eucaliptos?
Se se fala em aproveitar recursos e em viver com o que temos, porque se têm sacrificado as culturas de subsistência alimentar básica por culturas industriais de exportação como cártamo, girassol, tomate, beterraba, algodão, tabaco?
Se se fala em não delapidar o que temos, porque se impermeabilizam milhares de hectares de solos com quilómetros de betão armado = auto-estradas e vias rápidas?
Se se fala em aproveitar recursos, porque se defendem barragens como a de Alqueva que vão destruir os poucos regadios existentes no Alentejo, estradas, aldeias e património cultural com o que pretende ser o «maior lago artificial da Europa»?
2 - Quando é que o País tomará o rumo do bom senso e os sacrifícios exigidos sejam feitos com menos sofrimento do que agora?
Quando as tecnologias libertadoras e apropriadas apontarem o caminho certo da Economia viável, quando as pequenas e médias empresas tomarem o lugar de protagonistas , talvez os portugueses se interessem e empenhem no sentido colectivo do seu País.
Não é abstracto o tema da dimensão empresarial: ele está intrinsecamente ligado à nossa possibilidade de sobrevivência como povo independente.
O pequeno e o médio aumentam a nossa independência, o grande torna-nos cada vez mais escravos das multinacionais .
A discussão do Plano Energético em termos de grandes unidades produtoras é a total aberração que alguns responsáveis do Governo, como o Secretário de Estado do Ambiente, já reconheceram.
Insistir nos grandes planos  - Alqueva, Siderurgia, Nuclear, Pirites, Petróleo - é não só continuar aumentando a dívida externa, reforçando a nossa dependência, comprometendo as futuras gerações mas também obstruir o trabalho de emancipação nacional e de libertação da sociedade civil que as indústrias e tecnologias de média e pequena dimensão são as únicas a garantir.

3 - Engenheiros de energia começam (quase) sempre os seus discursos com um exercício de futurologia. Aquilo a que chamam «as estimativas dos consumos energéticos para os próximos anos».
Olhos postos nos países desenvolvidos, ricos, industrializados, prósperos, felizes - em suma, energívoros - os engenheiros  portugueses sonham então para os portugueses(?) as grandes metas europeias e norte-americanas.
Se queremos ser gente, passar da retaguarda para a vanguarda, ter qualidade de vida, temos de consumir energia como eles consomem.
E vá de gráficos com as metas a atingir até ao Ano 2000.
Ora o processo tem de ser o inverso, se o critério for de facto o interesse dos portugueses e a independência nacional.

4 - Errado é pretender produzir energia em obediência aos padrões e metas que nos são estranhos, completamente alheios e estrangeiros. Errado é recorrer à exploração de energias importadas - em vez de explorar as que temos . O caso do alumínio é a típica indústria devoradora de energia ou energívora, outras o serão de água - hidróvoras -, outras o serão ainda de outros recursos naturais portugueses. Implantando indústrias energívoras.
Realista é saber que energias temos e podemos explorar para depois ligar a sua utilização necessariamente regionalizada - à maneira como produzir e ao tipo de coisas a produzir.
5 - O jacinto-de-água deixou de figurar na lista dos flagelos, para se incluir, com fortes razões de facto, na lista dos recursos naturais a explorar, desde que se descobriu que esta biomassa podia transformar-se em energia. Era só querer...
Que grande campanha não se deveria ter já feito, perante um tal recurso de energia disponível?
O jacinto-de-água, também conhecido por jacinto aquático ou desmazelos, é uma planta aquática, flutuante, que vive em águas doces; tem flor azul-lilás, longas folhas verdes, dispostas em tufos, com umas raízes grossas e suculentas, e outras compridas e normalmente delgadas, aparentando constituir, no conjunto, a forma de cabeleira.
Reproduz-se por sementes contidas em cápsulas, em número variável, chegando a atingir 5000 sementes por planta e mantendo por 15 anos o poder germinativo, resistindo à submersão e à dissecação e, propagando-se por meios vegetativos, alastra rapidamente, originando problemas e prejuízos de ordem vária. Assim, reduz as secções dos leitos dos rios, das valas de drenagem e dos canais de rega, dificulta a navegabilidade, diminui os caudais nas linhas de água, por obstrução, e aumenta a evapotranspiração cerca de 3,7 vezes mais do que a superfície livre das águas, nas mesmas condições. Por outro lado, verifica-se uma diminuição da fauna ictiológica nas áreas que invade e constitui planta hospedeira de insectos portadores de doenças do homem e animais.
Para exterminar ou conter o desenvolvimento vegetativo e populacional desta planta, não se dispõe, actualmente, de nenhum meio de luta, isolado ou combinado, que apresente resultados inteiramente satisfatórios. Por outro lado, esta operação torna-se mais difícil, por se tratar de um hidrófilo, e poder-se provocar desequilíbrios nos ecossistemas do meio aquático, desde que não se tenha em conta os componentes físicos, químicos e biológicos.
Introduzida em Portugal em data desconhecida, provavelmente como planta ornamental, foi inventariada entre nós, pela primeira vez, em 1939. A partir dos últimos anos tem-se desenvolvido bastante, espalhando-se por algumas regiões, especialmente no Ribatejo, numa zona que vem desde montante da Barragem de Belver até Vila Franca de Xira e há uma outra larga mancha, na foz do Sado, causando grandes prejuízos materiais, na ordem de milhares de contos. Pela experiência adquirida nos últimos anos, no nosso País, e pelo que se conhece do seu comportamento em outras partes do mundo, considera-se esta praga extremamente perniciosa.
Em face da gravidade da situação e de ser urgente desencadear acções específicas, de grande envergadura, coordenadas e integradas, porque deverão ser de natureza pluridisciplinar, o secretário de Estado do Ambiente, prof. Gomes Guerreiro, por despacho de 19 de Novembro de 1976, incumbiu o presidente da Comissão Nacional do Ambiente de coordenar uma campanha de combate a esta praga, em colaboração com outros organismos interessados. Estão já a participar nos trabalhos, além de técnicos da Comissão Nacional do Ambiente e do Serviço de Estudos do Ambiente, representantes das Forças Armadas, da Secretaria de Estado das Pescas, da Universidade de Aveiro, da Faculdade de Ciências de Lisboa, do Instituto Superior de Agronomia, da Direcção-Geral do Serviço de Fomento Marítimo, da Direcção-Geral dos Recursos e Aproveitamentos Hidráulicos, da Direcção-Geral dos Serviços Florestais, da Administração-Geral e Capitania do Porto de Lisboa, do Laboratório de Farmacologia da Repartição dos Serviços Fitopatológicos e do Centro de Estudos Agronómicos da CUF.
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(*) Este texto  foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 21/5/1988
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1-4 - ta-1-aa  = artes alternativas - os dossiês do silêncio - discurso envenenado
NOVAS TECNOLOGIAS: MAS QUAIS?(*)

(*) Este texto  foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 3/5/1986

3/5/1986 -
TECNOLOGIAS APROPRIADAS

As respostas do realismo ecológico (à crise) são por natureza plurais e diversificadas. São parciais e não totalitárias, democráticas e não estatais.
Não se deposita a esperança num sistema, numa engrenagem, numa instituição ou num messias salvador, não se exige que seja o Estado a fazer e a resolver tudo, mas aos homens enquanto pessoas, a cada grupo de homens enquanto comunidade democrática fica o encargo de se organizarem para praticar as tecnologias apropriadas e as alternativas possíveis.
Não se trata de salvar a pátria ou o mundo de uma penada, como dizem fazer as ideologias revolucionárias - de dar a felicidade total ao povo de uma vez por todas, de engendrar, por milagre totalitário, a transformação ou mudança prometida, de transmutar magicamente todo o mal em bem total.
«Vamos contribuindo para...», vamos dando passos pequenos mas seguros e, principalmente, irreversíveis: é o lema. Vamos semeando, vamos somando, parcela e parcela, libertando passo a passo, emancipando pessoa a pessoa, cada um às suas próprias mãos.
Seja qual for o sistema, o regime, o governo, o partido, a coligação que estiver no poder, trata-se de exercitar cada vez melhor e um número cada vez maior de pessoas nas tecnologias apropriadas.
Comecemos pelo A B C.
As tecnologias apropriadas a que se chama, no mundo moderno, «alfabetização», revelam até que ponto é restritivo esse conceito de alfabetização mas, por outro lado, mostra também como as tecnologias apropriadas não são uma novidade, uma inovação recente, mas coexistem com as técnicas de alienação.
Escrever, Ler e Contar são, com efeito e sem dúvida, tecnologias libertadoras básicas: e a nossa admiração é que elas, também elas, não tenham já sido banidas do (nosso) sistema escolar, feito para escravizar as pessoas ao sistema.
Mas só com esta alfabetização elementar também não se formam homens para a liberdade, para a democracia, para o «self-government» e para a auto-suficiência.
A instrução básica, como diria um iluminista de novecentos, inclui hoje outras tecnologias apropriadas. Centenas de «TA.».

TÉCNICAS PERSONALIZADAS

Sempre no pressuposto de que a «revolução cultural» começará por ser uma revolução pedagógica, é indispensável que o sistema escolar se diversifique e maleabilize, de forma a preparar as pessoas para as tarefas que, enquanto pessoas, têm que realizar.
Como se calcula, é aqui que se abre o abismo com o sistema escolar vigente. Na sua quase totalidade, ele prepara as pessoas para as transformar em servidores funcionários e funcionais do sistema.
O que se pressupõe, como reivindicação prioritária, é uma Escola aberta e Livre, não comprometida com o sistema mas com as pessoas enquanto tal, com os cidadãos enquanto células vivas da democracia viva, células do tecido social.
Á escola aberta, ecológica ou democrática, cabe abrir brecha no sistema monolítico, na sociedade unidimensional, encarregada de reproduzir o sistema até ao infinito.
Quase inconcebível num Estado moderno - preocupado em manipular as pessoas para que sigam, obedientes, servindo servilmente o sistema - a Escola aberta é a aposta e a proposta ecológica por excelência.
Dela decorrem as propostas centrais que a caminhada para a sociedade ecológica implica:
Renascimento Rural.
Reciclagem sistemática de resíduos, desperdícios e materiais.
Técnicas de cooperativismo activo.
Organização (tácita ou explícita) de uma Oposição Crítica Radical ao sistema vigente.
Técnicas de apropriação de cultura agrícola ecológica.
Aproveitamento das leis existentes favoráveis à defesa pontual ou sectorial do ambiente, da natureza, da segurança, etc.

DEFRONTAR UM DOGMA

O projecto ecológico é, por natureza e na sua máxima extensão, pedagógico. Ou, se quiserem, informativo. É no mundo da comunicação, em sentido lato, que se decidirá a subversão ou alteração de fundo da ordem estabelecida: quer dizer, o sistema que destroi os ecossistemas.
É na área da informação ou da comunicação que se trava a batalha ecológica, que aposta na transformação da superestrutura, independentemente das infra-estruturas estarem ou não a caminho da mudança.
Mas como se sabe, isto é afrontar um dos dogmas mais poderosos da ideologia marxista, que faz depender toda a superestrutura das infra-estruturas económicas.
A «utopia» de António Sérgio radica aí, no afrontamento desse dogma, e volta até nós com o projecto ecologista, que alguns, certa ou erradamente, classificam de neo-franciscanismo, mudar os homens para mudar a humanidade.
Tal como António Sérgio, acreditamos na «reforma das mentalidades» para a transformação da sociedade portuguesa. O sentido das palavras sergianas talvez tenha que ser apurado e depurado, adequando-o aos tempos de hoje, menos racionalistas e mais humanistas. Mas, na essência, as categorias básicas do seu pensamento e do seu projecto pedagógico, permanecem no ecologismo de 1983, quanto às respostas e propostas práticas, às apostas da opção ecologista.

QUE FAZER?

Onde estão as chaves, respostas ou soluções?
Para o habitante da cidade, prisioneiro da engrenagem urbana, a resposta é Renascimento Rural.
Para o consumidor alienado a produtos tóxicos e cancerígenos, a resposta é produção descentralizada e biológica à medida do homem.
Para o cidadão eleitor que se limita a pôr nas urnas o voto, a solução, alternativa, resposta ou chave, é autogestão dos meios de produção, auto-organização com outros cidadãos por afinidades de base, autarcia, independência local.
Para o aluno da escola teórica, dogmática, mnemónica, a alternativa é a escola paralela, prática, de tecnologias apropriadas, energias suavas, aprendizagem de autocontrole.

Para o desempregado, a solução alternativa é formar um sindicato de desocupados, tal como todas as outras vítimas da engrenagem : peão, consumidor, aluno, paciente, doente, eleitor, munícipe, etc.
Para todos em geral e para o ecologista em particular - a alternativa é aprender a ler criticamente a vida e o mundo, atrever-se a pensar pela própria cabeça.
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(*) Este texto  publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 3/5/1986
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1-4 - artes alternativas - os dossiês do silêncio- Domingo, 20 de Julho de 2003
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DAR VIDA AO ARTESANATO: TRABALHO LIVRE COMBATE DESEMPREGO(*)

(*) Este texto  foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 28/5/1988

28/5/1988 - 1 - Em cada momento histórico e em cada lugar da Terra, os desafios lançados à inteligência e à imaginação dos homens variam de intensidade. O que actualmente se chama crise é um desses desafios e tem causas próximas e longínquas quer ideológicas quer de estrutura e organização.
Mas um facto é reconhecido por todos: a chamada Revolução Industrial, designação já de si autocontraditória e tendenciosa, contribuiu fundamentalmente para a sistemática e metódica destruição de recursos e riquezas, de culturas e civilizações, de raízes, fontes, valores e património.
Quando se assiste, por exemplo, à destruição de uma antiga indústria nacional - o vidro - destruída pelo plástico  e pela  Petroquímica, quando a grande indústria pesada destroi a pequena e média, é simultaneamente uma questão de ecologia e património que se põe, quer dizer, uma questão simultaneamente ética e económica.
Conservar a cultura e a civilização significa conservar o equilíbrio ambiental, as relações subtis e qualitativas, as «nuances» e as diferenças, a identidade, a singularidade, enfim, numa só palavra, a liberdade.
Indústria abandonada, o artesanato tem toda uma história para contar às novas gerações, elas também atiradas pelo sistema industrial ao lixo da história chamado desemprego. Com as artes e os ofícios que estão morrendo, é a liberdade humana que está morrendo também.
É dessa perspectiva que o realismo ecológico vê o artesanato, que outros encaram como assunto de turismo ou comércio externo. No meio dos equívocos sobre artesanato que se vende, que se compra, que se mistifica, que se aliena, o trabalho livre artesanal é a própria essência da liberdade e da democracia.
O «proletário», com efeito, é uma «criação» recente e significa que o trabalhador só possui, como riqueza e propriedade, a sua «prole». O trabalho livre artesanal é assim o património mais precioso que Portugal pode oferecer ao movimento ecologista internacional e à resistência universal contra o genocídio.
O assassínio de artes e ofícios - os «tecelões da liberdade» - tem sido perpetrado por todos os sistemas económicos hoje vigentes, quer os do bloco capitalista quer os do bloco anticapitalista.
Os «tecelões da liberdade» que ainda resistem foram matéria de reportagens realizadas pela «Frente Ecológica» em diversas circunstâncias.

2 - «Estagnação económica»? «Recessão»? Mas então não se tratava de levar até ao fim e ao infinito o «modelo de desenvolvimento» baseado no dogma religioso do crescimento sem limites? Não se tratava de crescer ?
O desemprego, a estagnaflação, a recessão parecem assim mecanismos de segurança, válvulas de escape, que o próprio sistema segrega, para a sua automanutenção no declive da crise.
 O infinito dentro de um planeta finito.
Temos, então, como se fosse a febre que mantém vivo este corpo , o desemprego generalizado. Consultem-se os números do INE e ver-se-á de que maneira o desemprego é apenas o subproduto natural e lógico do sistema que julgou viver matando os ecossistemas, despovoando o mundo rural, concentrando as populações arrancadas à terra  nas cidades-pesadelo.
Diligentes sociólogos e parlamentares da CEE, em Abril de 1983, estimaram por exemplo que os jovens com menos de 25 anos constituem 40 por cento dos desempregados.
Diligentes analistas de estatísticas concluíram, em Portugal, que um quinto dos desempregados são jovens e nunca trabalharam.

3 - Dir-se-á que é a inércia da lógica do absurdo do sistema. Assim se gaba de ser a economia que temos, não é verdade?
Evidentemente que não é preciso indícios do que já se sabe ir acontecer por lógica interna do sistema. Porque está dentro da própria lógica, ainda que absurda, deste modelo que se diz «crescimento» e que é atrofia, que se diz desenvolvimento e é reacção, que se diz progresso e é retrocesso.
Se o sistema, na fase de imposição a ferro e fogo (a  chamada Revolução Industrial), levou décadas  bramando contra a mão-de-obra intensiva, destruindo empregos porque era preciso despovoar o campo, inutilizando postos de artesanato porque era necessário industrializar, porque grita agora que não é capaz de criar postos de trabalho, de fazer viver o que  matou?
Onde estão esses postos de trabalho que o sistema disse estarem a mais quando aliciou agricultores para a cidade e para os centros industriais?
Não sabiam os previsionistas, filhos e neto do sr. Herman Khan, que a recessão é inevitável e que nem a rã da fábula cresceu pela simples razão de que estoirou? Porque se mostram de «novas» os futurologistas quando a recessão aparece? Quando o desemprego alastra?
Sendo os jovens, segundo as estatísticas, o grupo etário que vai apanhar de frente com a força da vaga, é à geração «desempregada» que deve ser dirigida a pergunta de um velho de cinquenta e cinco anos, já a cair da tripeça e a que a juventude naturalmente votará o natural e juvenil desprezo que é seu timbre.
Será que outra geração vai ser engodada no mesmo silvo em que foram enganadas as anteriores?
Se a tendência monopolista tende para a destruição dos pequenos e médios (produtores e consumidores) é evidente que o seu contrário, a tendência ecológica alternativa, vai no sentido de criar e multiplicar empregos.

DESMONOPOLIZAR É CRIAR EMPREGOS

Não é, portanto, a «crise»,  a culpada da falta de empregos, mas a própria lógica do sistema, o gigantismo próprio do monopólio, seja ele do Estado ou privado.
Essa destruição tornou-se crónica nos meios rurais, o pequeno e médio agricultor, o pequeno e médio proprietário sofreram uma autêntica razia. Mas o pequeno e médio é uma espécie igualmente em vias de extinção noutros ramos da vida económica, até ao consumidor e ao cidadão em geral. Fala-se em declínio e desaparecimento da classe média.
Uma indústria de colectores solares para aquecimento de águas domésticas, significa mais postos de trabalho, pois será necessário mais gente para desenhar, manufacturar, instaurar e manter o equipamento solar.
Se é compreensível que os particulares pudessem oferecer certa resistência à novidade das tecnologias leves, devido à ignorância dos utentes sobre os resultados que se podem obter, compete aos organismos públicos, animados pela vontade política do Estado e do Governo, dar o exemplo, fazer a demonstração, tomar a iniciativa de provar as vantagens das t.a. (tecnologias alternativas ou tecnologias apropriadas) assim como às autarquias e a outros organismos supostos responsáveis.
Se se trata do interesse nacional baixar a factura do petróleo que se importa, é igualmente do interesse nacional tomar medidas, legislativas e nem só, para aumentar o sector alternativo da energia, começando pelo sector público e levando a gestão energética até aos consumidores particulares.
Activando a procura e a oferta dos equipamentos para t.a.'s, activa-se quem produz, criando empregos. Por isso, a energia solar - segundo afirmam especialistas - , é um grande potencial de novas oportunidades de trabalho, especialmente em canalização, construção, investigação e desenvolvimento.

5 - Imprensa e Cultura hoje, em Portugal, vivem dominadas por uma concepção internacionalista ou imperialista que entende dever impingir às populações valores e realidades que lhes são completamente alheias.
Dizem então os senhores cultos e eruditos que o povo é relapso à Cultura.
Mentira. O público é adverso às injecções maciças de ideologia que, através das vedetas internacionais, se lhe pretende impingir. Ou às artes e formas culturais abstractas, nomeadamente música e bailado - que não aquecem nem arrefecem e tão-pouco divertem.
A tónica no património tradicional, na arqueologia, nas raízes histórico-culturais será assim o antídoto para uma invasão de temas, valores, obras e autores que nada dizem aos portugueses, mas que a classe dita culta teima em dar-lhes.
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(*) Este texto  foi publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 28/5/1988
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1-4-ta-1-aa-ds- os dossiês do silêncio
domingo, 19 de Janeiro de 2003

T.A. EM PORTUGAL: O DESENVOLVIMENTO AO NOSSO ALCANCE(*)

10/9/1983 - É possível combater a desertificação que alastra por largas zonas do continente e ilhas - assegurou-nos o prof. José Nascimento, da Faculdade de Farmácia de Lisboa, que há anos se consagra à difusão, entre nós, das tecnologias apropriadas para o ecodesenvolvimento.
Ele tem agora oportunidade de se dirigir a uma mais vasta audiência, através da Radiodifusão Portuguesa. Desde o dia 28 de Abril passado, a Antena 2 transmite, quinzenalmente, às quintas-feiras, pelas 21 horas, um apontamento da sua autoria, sobre tecnologias apropriadas, Intitulado «Velhas Ciências, Novas Técnicas».

As tecnologias apropriadas já deram provas práticas, em diversos pontos do globo em vias de desenvolvimento, e constituem, em muitos casos, verdadeiro sucesso no contributo que dão à independência dos povos, até então submetidos ao imperialismo económico dos grandes blocos.
Como a expressão «tecnologia apropriada» ainda não diz grande coisa ao público, pedimos ao prof. José Nascimento que nos dê exemplos: depuração de esgotos com jacintos de água e outras plantas, produção de proteínas, a partir de folhas e minhocas, produção vegetal em abrigo com colectores solares de água, onde se pode exercer aquacultura, cimenteira de eixo vertical, funcionando a carvão de madeira, produção de biogás e adubo, simultaneamente, são exemplos de tecnologias apropriadas.

INVENTÁRIO DE RECURSOS

José Nascimento não duvida de que Portugal está no momento exacto para decidir o modelo de desenvolvimento que pode libertar-nos ou fazer-nos ainda mais dependentes de potências estrangeiras, de sistemas externos.
As suas palavras merecem atenção dos que querem um país livre e democrático: «Portugal pode, do ponto de vista de desenvolvimento, caracterizar-se geograficamente pela existência de duas comunidades: litoral medianamente industrializado e interior subdesenvolvido.»
Pormenorizando, adianta: «A comunidade do interior está a sofrer um retrocesso de desertificação humana pela emigração para a cidade e para o estrangeiro, enquanto a existência de um clima semi-árido ao sul de Tejo e em algumas bolsas do Norte provoca, em certas zonas, a desertificação real.»
Como quem faz um inventário de recursos naturais, vai enunciando: «Não temos combustíveis fósseis mas temos insolação importante; temos maus terrenos mas que podem ser utilizados na agro-silvicultura e pastorícia, quer dizer, para a produção de matéria vegetal; temos uma orla marítima importante, aproveitável em projectos de aquacultura.»
Reconhecendo que «possuímos uma da formas de produção animal mais absurdas», adverte: «É necessário atender ao meio rural, criando comunidades autosuficientes em energia para a realização dos trabalhos agrícolas, instalando pequenas indústrias que absorvam mão-de-obra excedentária em certas épocas do ano (exemplo: miniaturização, através de biotecnologias apropriadas) e aumentando o nível cultural da população rural, com vista a aumentar a sua capacidade de absorver a inovação.»

DOIS PROJECTOS NO TERRENO DA BIOMASSA

O poder local e a regionalização em profundidade passam pelo desenvolvimento das tecnologias apropriadas -- reafirma José Nascimento, que nos últimos dois anos tem realizado uma intensa actividade de animação.
À frente de uma organização particular, o Centro de Informação e Pesquisa para o Desenvolvimento (C.I.P.D), associação de fins não lucrativos, na Avenida Miguel Bombarda, 91, em Lisboa -, José Nascimento dinamiza actualmente alguns projectos de aplicação no campo da biomassa, com subsídios relativamente confortáveis da Fundação Gulbenkian e da Junta Nacional de Investigação Cientifica e Tecnológica.
Um desses projectos, a decorrer no Paul, perto de Messines (Algarve), conta com o apoio da Direcção Regional de Agricultura do Algarve. O outro, em Porto Santo - índice de aridez próximo do deserto -,conta com o patrocínio da Direcção Regional de Agricultura da Madeira.
Ambos estes programas visam «combater a desertificação mediante a recolha, algures, e plantação, no local, de espécies vegetais adaptadas ou adaptáveis a zonas áridas e semi-áridas, e com interesse económico: produção de madeira, alimentação de gado (pastorícia), plantas medicinais, são exemplos abrangidos por esses projectos de culturas ditas de sequeiro.
Só dificuldades de ordem burocrática têm impedido que outro projecto idêntico se instale em Cabo Verde, mau grado a vontade de o concretizar manifestada ao C.I.P.D. pela Embaixada deste país em Lisboa.
As tecnologias apropriadas – a que outros chamam libertadoras - desafiam interesses e dogmas económicos profundamente enraizados. José Nascimento não poupa críticas ao imperialismo americano. As tecnologias desenvolvidas pelos Estados Unidos no sentido de ter o controlo mundial dos alimentos, são para ele o caso típico que se opõe à tecnologia apropriada, como, por exemplo, as tecnologias de resistência ao colonialismo inglês postas em prática por Gandhi.
Que o problema da tecnologia é essencialmente político e de coragem para não resvalar na demagogia, fica bem claro das afirmações feitas pelo nosso entrevistado: «Os políticos, cuja especialidade é prometer aquilo que as pessoas gostariam que viesse a acontecer, passam por alto o problema da relação apertada que existe entre as disponibilidades reais existentes (e não as disponibilidades reais convenientes) e o calendário de realizações propostas.»
Contar com as próprias energias é a expressão-chave de um desenvolvimento pela via das tecnologias intermédias ou libertadoras, implantadas com sucesso em muitos países do chamado Terceiro Mundo: «A análise de um grande número de projectos que tiveram sucesso - sublinha José Nascimento - e que fracassaram, permitiu elaborar um conjunto de normas a que a implantação de uma tecnologia deve sujeitar-se.»
Eis, uma a uma, essas normas:
«1 - A T.A. deve evitar a dependência dos recursos estrangeiros, devendo usar-se sempre que possível os recursos humanos e de energia e os materiais disponíveis localmente;
«3 - A T.A. deve gerar postos de trabalho: se se eliminam certas categorias de actividade, os trabalhadores deslocados deverão poder ser integrados noutras esferas da capacidade produtiva e preferivelmente dentro da comunidade;
«4 - A instalação de uma T.A. deve considerar o capital estrangeiro como um complemento e não como substituto do capital nacional;
«5 - A instalação de uma TA. relacionada com o aumento de produtividade ou aumento de mercadorias manufacturadas deverá incluir um mecanismo para ter controlo sobre o preço dos produtos;
«6 - Os processos de T.A, devem ser compatíveis com a ecologia local;
«7 - A T.A. deverá assegurar que as actividades de investigação estejam estritamente vinculadas às realizações práticas em curso para poder criar inovações independentes e úteis;
«8 - As T.A. devem levar em conta o nível cultural das populações;
«9 - As T.A, aparecem multas vezes como tecnologias primitivas, porque as que se encontram mais divulgadas se dirigem às regiões mais atrasadas, mas desde que o nível cultural o permita, as tecnologias apropriadas podem revestir formas sofisticadas

CONTRA OS «SACRISTÃES» DA ECONOMIA

O inventário dos recursos naturais torna-se, para países como Portugal, a pedra angular de um ecodesenvolvimento pela via das tecnologias apropriadas.
A Hungria dá um bom exemplo de país que está aproveitando as seus próprios recursos, adoptando tecnologias leves, ora obtendo proteínas a partir de folhas, ora utilizando alimentos com azoto não proteico na alimentação de ruminantes para escapar ao controlo do mercado mundial exercido pelos E. U A.
Como acentua José Nascimento, não se pode falar em desenvolvimento sem falar do tipo de tecnologia que o promove. E se a neutralidade da tecnologia ainda é hoje um mito corrente, já se vai sabendo que na realidade é ela que condiciona estruturalmente o modelo de desenvolvimento que se pratica.
Que o sistema vigente - o crescimento pelo crescimento - pode adoptar e adaptar as T. A. sem que para isso tenha de alterar a sua essência (provocadora de desigualdades sociais, por exemplo), também é verdade que nenhuma alternativa de ecodesenvolvimento se abrirá sem uma tecnologia diferente, adequada a esse objectivo, e sem aquisição, por cada país, do respectivo «know how».
Os projectos gigantes de «economia de escala» -- explica ele -- encontram-se baseados numa tecnologia também monopolista e macrocéfala, dita capital-intensiva. «Se nas nações com este tipo de desenvolvimento, o produto nacional bruto cresce e o produto nacional bruto "per capita" também, este índice esconde outra realidade.
E pondo o dedo na ferida: «A distância entre os que têm e os que não têm, agrava-se cada vez mais, aumentando a distorção na distribuição do rendimento.»

O DESENVOLVIMENTO DO SUBDESENVOLVIMENTO: EXPIRAL DE LOUCURA

É um facto, escamoteado por «cardeais» e «sacristães» da economia oficial-- como nos diz --que «as tecnologias de capital intensivo, utilizando recursos humanos especializados, foram o agente do agravamento do subdesenvolvimento».
As consequências desse crescimento desumano vão mais longe, como José Nascimento confirma: «A sangria dos países submetidos à pilhagem revela-se também na movimentação demográfica e a população rural decresce continuamente a expensas da população urbana que tem um crescimento explosivo, fonte de perturbações sociais acrescidas».
«Espiral de loucura», chama José Nascimento a este «modelo decrescimento» que nos é imposto do exterior (as comunidades económicas como a C. E. E,) e do interior (grandes corporações industriais ou os projectos políticos de grande retumbância).
Segundo nos informa, os factos vêm desmentindo os dogmas, sofismas e mitos do crescimento: «Sem querer afirmar que todas as dificuldades actuais que os países atravessam são consequência de programas de desenvolvimento mal concebidos, não há dúvida de que estes programas se têm baseado em meras suposições, transformados em «dogmas infalíveis».
É falso, por exemplo, que o crescimento de um sector ou de uma área resulte no desenvolvimento do resto do país; no entanto, todos os economistas o afirmam constantemente, ou o pressupõem. Outro pressuposto errado é de que o «crescimento se pode basear na utilização de recursos afastados como combustíveis fósseis e outras matérias-primas não locais», ou que «o crescimento deve utilizar sistemas de processo de produção de agricultura em grande escala porque são os meios mais eficientes de produção.»
Continuando a desmascarar os dogmas correntes da economia oficial, aponta mais dois: «A tecnologia moderna de capital intensivo gera maior crescimento do que a tecnologia de mão-de-obra intensiva» e «o capital estrangeiro é melhor do que o nacional num processo de desenvolvimento».
O que se prova, no fim de contas, é o contrário de tudo isto que os economistas oficiais debitam: «As tecnologias de capital intensivo, utilizando recursos humanos especializados, foram e são agentes de agravamento do subdesenvolvimento».
Para inverter a direcção de uma economia irracional, suicida e desumana, as tecnologias apropriadas são a ponta de lança nos países em transição como Portugal.
E a sigla T. A., a palavra de guerra da paz.
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 10/9/1983
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NOTÍCIAS DE KALI-YUGA NA TRANSIÇÃO PARA AQUÁRIO

30/4/1992 - Talvez não tivesse feito asneira em guardar estes milhares de páginas, agora normalizados em formato A4 - mercê de alguns milhares de fotocópias - sobre a Era da Catástrofe, não porque esteja muito preocupado em lisonjear meu congénito pessimismo ou aprofundar os meus conhecimentos sobre Ecologia Humana, mas porque, de repente, me apercebi como era inspirador todo esse rol de notícias. E depois gosto de inventários: tenho a mania das listas, dos glossários, dos dicionários. Ora há lá nada mais divertido do que uma boa e suculenta lista negra (de pesticidas no mercado, por exemplo, ou de agentes patogénicos para a guerra bactereológica.) Mas outros projectos menos literários podem ir buscar a esse lote de lixo  material informativo que levou centenas de horas a coligir (cortar, colar, formatar em fotocópias A4, arrumar, classificar, subdividir em lotes temáticos, etc) e que ninguém teria tido jamais a pachorra de reunir nesta câmara de horrores em que se transformou o meu arquivo de recortes, afinal a minha casa  Títulos não faltam para os projectos de livro que irei realizar um dia, na minha reforma:
- «Notícias de Kali-Yuga»
- «De Kali-yuga para o Aquário»
- «Notícias do Apocalipse»
- «Dicionário do Terror Industrial»
- «Prontuário de Ecologia Humana»
- «A Lista Negra»
- «Ambientopatologia para as escolas»
- «As Multinacionais do Cancro»
- «O Mercado da Doença»
- «A Lista Negra»
- «Inventários da Guerra»
- «A Era da Catástrofe»
- «Notícias do Biocídio»
- «Os Cavaleiros do Apocalipse: Guerra Nuclear (o paraíso radioactivo), Guerra Química, Guerra Bactereológica, Guerra Electrónica, Guerras do Petróleo, Sindroma sísmico-nuclear, etc»
- «De Hiroxima a Chernobyl: a imparável escalada»
- «De Hiroxima a Chernobyl: Laboratórios de Ecologia Humana»
- «Símbolos de uma Civilização: Serra Mecânica, Concorde, Supérfénix, Camião-Cisterna, Olimpíadas, »
- «Os Escândalos do Progresso»
- «Os Retrocessos do Progresso»
etc
Títulos para narrativas de Terror-ficção:
- «A Câmara de Horrores»
- «Em casa de Frankenstein»
- «Domicílio no Paraíso»
- «Narrativas do Inferno»
- «Histórias do Apocalipse»
etc.

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