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terça-feira, 13 de Maio de 2003
A INÉRCIA DO MUNDO
28/7/1997 - Ter razão antes do tempo e pensar o que ninguém admitia, antes, que se pensasse, não é propriamente uma tragédia, mas pode ser uma chatice.
Tem acontecido a muito boa gente e, provavelmente, continuará a acontecer, enquanto o mundo for mundo e o imobilismo a força de inércia que mantém no poder as inquisições.
Uma perestroika de vez em quando não muda nada neste cenário. Antes pelo contrário: acentua ainda mais a grande chatice que é chegar primeiro e ter as intuições do futuro muito antes dos outros.
Se alguém, antes de Gorbachev, se atrevesse a pensar e a predizer o que ele fez, era o Apocalipse. No entanto a Perestroika realizou-se, porque tinha de ser - «estava escrito...» - e o que tem de ser tem muita força. Hoje, quase já ninguém se lembra dele. E dela.
Há países, como Portugal, onde a Perestroika ainda não chegou e essa é a questão de fundo que algumas páginas de um diário, a seguir apresentadas, escritas entre 9/5/1989 e 8/10/1989, levantam.
Relativamente ao movimento ecológico, que eclodiria em Portugal depois do 25 de Abril, os que chegaram mais cedo têm um percurso de alguma paciência a percorrer. As provocações foram muitas e os proveitos nenhuns.
O ressentimento que transparece nessas páginas é, no fundo, legítimo mas detestável. Porque ninguém tem o direito de se considerar ressentido, só porque tinha razão sem ninguém lha dar e só porque aquilo que pensou, escreveu e tentou (em vão) publicar não foi logo acolhido com beijos e abraços.
Até há uma certa mitologia à volta do profeta, do antecipador, do pioneiro, do precursor. Galileu serve de modelo ao ressaibiado e incompreendido, como se pode ler no artigo escrito em 8 de Março de 1971, publicado, meses mais tarde, no semanário «Notícias da Amadora», e que a seguir também se reproduz.
Progresso e Reacção são conceitos muito flutuantes. E não é raro que os mais conservadores, imobilistas e reaccionários sejam os que apregoam, a toda a hora, progresso.
Enfim, vir cedo demais não será uma tragédia, mas é com certeza uma chatice, como se comprova pelos documentos que junto.
Afonso Cautela
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
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