quarta-feira, 29 de outubro de 2008

LEITURAS 2012

6500 bytes-antes-3> wri - antes-3> - frente-3> scan - esboço de história do mep – dossiês do silêncio (prefácio)

IMPRENSA UNDERGROUND:LEIT-MOTIV DOS ECOLOGISTAS

A Imprensa «underground» foi um dos fenómenos que marcaram o advento, pós 25 de Abril, do movimento ecologista.
Pelos temas e pela forma «artesanal» de fazer jornalismo, a imprensa «underground» marcava posição contra o Establishment, pelo próprio «media» utilizado, assinalando a diferença que interessava aos pioneiros do ecologismo.
Em artigo sobre a revista francesa «Actuel», então modelo de imprensa «underground», escrevia-se no semanário «Notícias da Amadora» (28/7/1971) palavras que seriam um leit motiv do ecologismo depois do 25 de Abril:
«Particularmente sensíveis aos danos e malefícios de um sistema que não podem comparar com outro pior e anterior (pois só conheceram este) as novas gerações manifestam-se contra as aberrações de uma cultura tecnológica sem alma que, na febre de conquistar e dominar o mundo material, depreciou completamente o biológico e o afectivo.»
E mais adiante:
«Particularmente sensível à Ecologia e à Moral, a novíssima geração inicia a sua vida por uma atitude inevitavelmente crítica e revela a sua insatisfação, a sua revolta, a sua angústia a respeito de certos factos que já não escandalizam nem assustam os mais velhos.»
Isto escrito e publicado em 28/7/1971 era, no mínimo, prematuro, pois dava as premissas do ainda embrionário movimento ecológico.
Se a conservação do ambiente estava na 1ª fila das preocupações, a verdade é que soavam ecos de preocupações mais vastas e mais profundas sobre o destino do ser humano, o significado da sua aventura cósmica, a sua dimensão metafísica ou religiosa, a sua ligação a uma transcendência. O Cosmos continuava a ser, para a ciência ocidental, apenas matéria de uma coisa chamada...Astronomia e não propriamente como a nossa fonte, a nossa origem e as nossas raízes.
Um filósofo vindo do marxismo, André Malraux, dera o mote que encorajava os potenciais ecologistas quando afirmava: «O século XXI será religioso ou não será.»
Disfarçada por motivos óbvios, a vertente metafísica, cósmica ou religiosa do movimento ecologista, ela só viria a revelar-se, com mais à vontade, quando chegou, já na década de 80, o contributo de Etienne Guillé e sua ecologia, sua ciência alargada.
O atrevimento de marchar para uma luta desigual e, à partida, para uma guerra perdida, explica-se pelo estímulo que um ou outro franco atirador teve, vindo de correntes e autores que, sendo malditos para o Establishment, estavam a fazer alguma fúria (nem que fosse por motivos comerciais ) na Europa.
O surrealismo primeiro e o realismo fantástico de Louis Pauwels e Jacquer Bergier, depois, foram duas dessas correntes de fundo que precederam o melhor das ideias ecológicas.
Entre as palavras proibidas que os textos da «Frente Ecológica» colocariam entre as mais usadas, aparece a palavra «Tecnocracia».
Numa sociedade dominada por tecnocratas, este atrevimento deve ser considerado uma atitude de coragem. Quem contestasse a Tecnocracia, era imediatamente insultado e humilhado.
Theodore Roszack, com o seu livro «Para uma Contra Cultura» foi um dos que encorajaram o jornal e as edições «Frente Ecológica» a manter essa hostilidade radical contra a Tecnocracia.
Tal como aconteceu com o movimento estudantil de Maio 1968, a dominante destes autores e correntes era não só, e pela 1ª vez, ecológica em sentido estrito (o ambiente físico) mas apontava também no sentido do ambiente cultural. Apontava portanto para um salto na vertical, para uma «espiritualização», palavra que era obviamente interdita nessa altura.
A luta contra o materialismo da época foi assumida, com mais à vontade do que na Europa, pelos grupos e movimentos que na Califórnia levaram a ecologia para o espiritualismo: Allen Ginsberg, Allan Watts, Timothy Leary e Theodore Roszack são nomes destacados dessa corrente «contra-cultura», expressão esta que escandalizou todos os bem-pensantes da época.
Outra expressão que escandalizou todos os quadrantes políticos e economistas de várias formações, foi a de «crescimento zero», baseada no relatório sobre os limites do crescimento, mandado elaborar pelo Clube de Roma ao MIT (Massachusets).
O movimento ecológico iria, posteriormente, adoptar estas premissas que os próprios desenvolvimentistas tinham estabelecido, mas de nada lhe valeu: o assunto, como tantos outros que iam à raiz da questão ambiental, viria a cair no esquecimento.
Se não fosse Ribeiro Teles, nunca mais ninguém teria falado em discutir «modelos de desenvolvimento» e em assumir posição por um modelo que viabilize economica e ecologicamente o País.
Mas mesmo Ribeiro Teles também se cansou e o crescimento selvagem continua como dantes ou, se possível, ainda mais frenético.
É caso para perguntar o que andaram os ecologistas cá a fazer.
O pacifismo, muito ligado às correntes anarco-libertárias, foi uma ideia que também pesou no nascente movimento ecológico.
O que se escrevia e publicava, em 1970, sobre o livro de Danilo Dolci, traduzido em português, indica como as preocupações pacifistas acompanharam as ideias e actividades dos activistas ecológicos.
Mais tarde, viria a ter certa relevância o pensamento e exemplo de Lanza del Vasto.
Podemos interrogar-nos como foi possível desaparecerem, sem deixar rastro, autores e empreendimentos dessa natureza e dessa envergadura.
Não há dúvida de que o movimento ecológico, naquilo que era fundamental e de relevância para o destino humano, foi um total e irreversível fracasso.

Nenhum comentário: