BIBLIOTECA DO PRÓXIMO PARADIGMA
Lisboa, 23/8/ 1997 - Na Era da Internet, há quem pense que tudo está feito e bem feito na área da informação. Sabemos tudo sobre tudo, a partir deste vórtice tentacular e vertiginoso que a grande tecnologia coloca à disposição dos privilegiados consumidores que têm acesso à rede.
Assim seria e assim talvez seja, para alguns, e na perspectiva da era zodiacal dos Peixes de que a Internet é o mais requintado abencerragem.
Há quem, na perspectiva da era zodiacal do Aquário, pense exactamente o contrário: a informação que importa, o informação sobre o fundamental e o prioritário, na perspectiva aquariana, nunca esteve tão silenciada e as peças do «puzzle» nunca estiveram tão dispersas, tão atomizadas.
O projecto a que se chamou «Biblioteca de Alexandria 2000» pretende dar uma primeira resposta (não a última nem definitiva) a essa nova prioridade de um Novo Paradigma de Pensamento e Comportamento.
Organizado que foi o embrião do que pode vir a ser a «Biblioteca de Alexandria 2000», parece justo que alguém ou alguma instituição com estrutura adequada, pense na hipótese de acolher esse projecto - caso verifique haver nele alguma justificação.
O autor disponibiliza-se para prestar esclarecimentos suplementares sobre as linhas fundamentais do projecto «Alexandria 2000».
- Relativamente ao livro e ao papel do livro na construção do Novo Paradigma, verificam-se hoje duas mitologias que este projecto igualmente repudia, mitologias que, no fundo, pouco têm a ver com o que verdadeiramente importa: a construção do Novo Paradigma e da Nova Idade de Ouro.
Uma dessas mitologias, deposita na tecnologia de ponta (Internet & Cª) todo o trabalho de transmitir conhecimento e informação, como se as energias (informações) mais subtis e as que mais importam pudessem ser transmitidas através de uma tecnologia que vibratoriamente não alcança níveis além dos mais vulgares.
Outra mitologia - que igualmente releva de uma enorme preguiça e de uma mentalidade demissionária relativamente às responsabilidades humanas no novo projecto cósmico, enfatiza a «pureza» da santa ignorância ou do livro único - a bíblia - .
Ambas estas mitologias servem a ciência ordinária, a qual continua sonhando em dominar a Sabedoria com o seu conhecimento de meio tijela.
Se há grupos ou instituições que se dizem a trabalhar para abrir à humanidade uma nova era, terão de se guiar por princípios menos primários, menos minimalistas, assumindo em plenitude a responsabilidade e a ambição de antecipar o futuro ou, como diziam Louis Pauwels e Jacques Bergier, de ser «contemporâneos do futuro».
É um pouco a síntese do projecto que venho hoje submeter à apreciação dessas instituições. E das quais deixo, para conhecimento de todos, os itens de referência:
- Escola Superior de Biologia e Saúde
Responsável: Reinaldo Baptista
- Cooperativa Espiral
Responsável, Manuel João Valventos
- Escola Superior de Ciência Naturais e Homeopáticas
Responsável: Carlos Ventura
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PARA UMA ESCOLA DE TECNOLOGIAS APROPRIADAS
Tal como a parapsicologia, a análise energética, a anti-psiquiatria, a etnologia e outras ciências que o sistema inventa para adiar a autodestruição iminente, entra a Ecologia no capítulo da ciência ornamental, da ciência alibi (para desculpar os crimes das outras), de ciência-bóia-de-salvação (para desculpar do fracasso o fracasso das ciências moribundas).
Já repararam, com certeza, nos volumosos tratados de ecologia científica que vão surgindo no mercado com gráficos estatísticos arrepiantes. Já repararam como a ciência estabelecida, a quem se deve, em boa parte a crise ecológica, tenta afastar -- mais uma vez pela terminologia arrevesada, pela linguagem esotérica, pelo calão técnico, pela superespecialização o aprendiz, o estudioso, o estudante que se propunha, talvez, ser o militante da vida, convencido de que a Ecologia ensinava tal coisa...
Face à crise ecológica, provocada em boa parte pelo caos das ciências particulares, não estão com meias medidas: e inventam mais uma ciência a que chamam a ecologia.
Mais uma vez a ciência é deles, só eles a podem ministrar como sacerdotes encartados de mais este culto, como intermediários, medianeiros e vulgarizadores do excelso saber.
A classe universitária não quer que o poder da ciência desça à rua. Acontece com toda a investigação, mas acabaria por acontecer, principalmente, com a Ecologia e com todas aquelas ciências que, eventualmente subversivas do sistema, deverão ser controladas imediatamente, para as submeter às regras internas que regem o gang.
Há exemplos. O que o sistema está fazendo para liquidar as artes marciais é digno de nota. Basta abastardar a nobre arte do Zen, basta reduzi-la a mercadoria e a objecto vendável, basta fazê-la entrar no circuito do consumo para que tais artes e práticas -- tais técnicas -- percam o poder subversivo (quer dizer, humanista) de que estão animadas.
O QUE VAMOS ENSINAR ÀS NOVAS GERAÇÕES, A VIDA OU A MORTE?
A opção, hoje, é apenas entre a Morte e a Vida, entre a Ciência Sofística e a sabedoria das civilizações civilizadas (e das quais se exclui, evidentemente, a Civilização da Coca-cola). A opção, hoje, é entre a morte que o sistema oferece e a vida que oferecem as alternativas ecológicas. O sistema, principalmente a ciência e sua famosa «neutralidade», está feito, está conivente com a Morte, enquanto o contra-sistema do militante radical está feito com a vida.
Não há mesmo meio termo.
Trata-se de saber, para as escolas e famílias, se vão transmitir aos educandos e filhos os mitos e as mentiras que nos escravizaram a nós, durante vidas, durante gerações, durante eras, ou se vamos dar às novas gerações a oportunidade de evoluir, de criar um mundo de harmonia (de sabedoria) que nós não tivemos.
Mundo solar que espreita, de que há sinais evidentes, mundo que nasce, entre flores e bombas, lágrimas e sorrisos, desespero e esperança, sismos e auroras boreais, mas que está nascendo já. Mundo que não é possível construir em cima deste e dentro deste mas paralelamente a este (haverá espaço para as alternativas?): agrocomunidades, bioagricultura, técnicas pobres, indústrias não poluentes, artesanato, criação de animais (para viverem connosco e não para abater), são sinais de um mundo solar que desponta.
Depois, as artes de curar, as tecnologias de vida: aprender a comer, a dormir, a respirar, a amar, a sonhar, a andar, a estar sentado, a olhar, a ver, a defender-se, enfim, a viver; aprender a transmutar o negativo em positivo; a suportar a dor e o sofrimento da violência, transmutando-a em harmonia e sabedoria.
Nada disto, no entanto, nos será ensinado pela ciência estabelecida (aquela que inventou à pressa a Ecologia para se enfeitar e se justificar...). Nada disto virá do sistema que só sabe criar monodependências, que nos escraviza e monopoliza com base nos mitos, metas e crimes da sua infindável verborreia. Nada disto pode ser aprendido nas escolas que servem de suporte ao sistema, porque tudo isto subverte, desde a raiz, o sistema.
Radical é apenas o que subverte de raiz o sistema de morte.
Mesmo sabendo que as novas gerações, manipuladas de manhã à noite pelos «media», vão preferir a sociedade da Morte (porque é a sociedade do consumo e do hedonismo), há, no mínimo, que ser honesto e propor-lhes a escolha: a vida ou a morte? A ciência ou a sabedoria? A tecnologia que mata ou as tecnologias de vida? A tecnocracia ou o artesanato?
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PROGRESSO MÉDICO OU ANACRONISMO MENTAL?
A análise do discurso médico põe em evidência que a mudança a fazer é também ao nível profundo da metodologia.
Conceitos anacrónicos na metodologia seguida, ou filosofias pretensamente progressistas, situam-se afinal, na melhor das hipóteses, antes de há 100 anos.
Se é verdade que o «Discurso Sobre o Espírito Positivo», de Augusto Comte, data de 1842 , também é um facto que as noções de higiene, profilaxia ambiental, globalidade holística, influência do meio na patologia, higiene e segurança do trabalho, há já mais de um século se começavam a consciencializar.
Os que se reclamam do progresso com insistência, porque todos os dias adoptam as novidades fabricadas pelos laboratórios químico-farmacêuticos, estão ideologica, filosofica, metodologica e culturalmente situados há um século atrás, onde ficaram, pelos vistos, imobilizados para sempre.
Este anacronismo e este atraso mental não é, evidentemente, exclusivo da investigação médica. Até nos meios ditos naturoterapêuticos, verificam-se casos de gente que idolatra, sem o saber, a lei dos três estados.
A lei do atraso mental, portanto.
A confusão mental não é, portanto, apanágio do discurso médico. Um certo canibalismo latente continua enraizado nos melhores subprodutos da ordem estabelecida.
Até que as pessoas decidam desintoxicar-se do discurso estabelecido, pensar pela sua cabeça, libertar-se de mitos, tratar-se, curar-se, tomar em sua próprias mãos a sua vida e a sus saúde. Até que.
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- A desmontagem e análise dos sofismas habituais no discurso médico é particularmente elucidativo para se compreender até que ponto as pessoas estão muito mais intoxicadas mental e ideologicamente do que fisicamente.
Embora fisicamente o possam estar também e não pouco.
Nos medicamentos, por exemplo, os conceitos de dose ou de limites para uso e abuso são conceitos habilidosamente arquitectados para criar uma carapaça de resistência às críticas que necessariamente os medicamentos químicos acabam por provocar, tantos são eles e os efeitos colaterais deles.
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DIVERSIDADE GENÉTICA
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-O capital genético do mundo vegetal está em vias de se esgotar, enquanto as sementes de plantas com valor alimentar se tornam um dos negócios mais bem controlados e mais poderosos do «agrobusiness», totalmente monopolizado por meia dúzia de companhias multinacionais.
O aviso lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) , com sede em Nairobi, aparece na sequência do alerta já lançado várias vezes por agrónomos e geneticistas, que denunciaram o empobrecimento genético da riqueza vegetal do Planeta como uma ameaça de fome endémica e de esgotamento de recursos alimentares a curto prazo.
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-As sementes das diversas plantas são hoje objecto de gigantescos monopólios - diz claramente o PNUMA .
Um estudo do ICDA (International Coalition for Development Action) observa que o maior comprador de sementes no mundo de hoje é a Shell - o gigante anglo-holandês do petróleo e dos produtos químicos. E quatro companhias, Dekalb, Pioneer, Sandoz e Ciba-Geigy, controlam dois terços do mercado das sementes de milho e sorgo híbrido nos Estados Unidos.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) , uma companhia, a United Brands, antiga United Fruits, detém dois terços das culturas de bananas potenciais do mundo. Digamos que o tipo de bananas que consumirmos, dentro de 20 anos, poderá muito bem depender de uma só empresa comercial.
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- Mas o estudo do ICDA intitulado «Seeds of the Earth» (as sementes da terra) verifica ainda um outro fenómeno aterrador: grande número dos principais fabricantes de pesticidas já controlam o «business» das sementes. O referido estudo adverte para o facto de que estas companhias ameaçam cultivar plantas capazes de prosperar somente graças à aplicação de certas substâncias químicas. Os fabricantes de pesticidas conseguem que os cultivadores comprem não só as sementes mas igualmente os pesticidas indispensáveis.
E aponta exemplos: uma certa substância química foi utilizada no processo de maturação de uma variedade de tomates chamada «Florida MH-1» que permite fixar a data da colheita no momento em que as condições do mercado pareçam apropriadas.
«Encorajados pelas indústrias» - diz o estudo do ICDA - «os produtores de tomate da Universidade da Florida desviaram o seu programa de cultura a fim de produzir um tomate capaz de amadurecer unicamente com a ajuda de pesticidas.»
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- Mas também os governos ocidentais já se preveniram para a grande escassês de sementes, constituindo bancos de genes a partir das matérias provenientes do Terceiro Mundo. No caso do trigo, o estudo indica: em 1970, o Ministério da Agricultura dos Estados Unidos gabava-se de ter genes provenientes de 27 nações. Vinte e dois deles eram de países do Terceiro Mundo, 14 dos quais somente detinham em reserva uma pequena parte do seu próprio trigo.
Esclarece o documento do PNUMA que a diversidade genética pertence exclusivamente às Nações do Terceiro Mundo , mas que estas estão em perigo de perder «esta preciosa herança natural» .
A chamada revolução verde, patrocinada pelo FAO, organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação e as companhias comerciais de sementes, têm provocado a erosão destes centros de diversidade genética.
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- Uma das principais acusações feitas pelo PNUMA à Revolução Verde da FAO é que ela provocou o abandono maciço das espécies vegetais locais - depositárias de 10 mil anos de diversificação genética - em proveito de alguma espécies de «alta reacção».
Estas espécies não são de alto rendimento como geralmente dizem os agroquímicos, mas de «alta reacção» (designação cientificamente correcta) porque as colheitas que fornecem só se conseguem à custa de enormes doses de adubos e produtos químicos - com todos os prejuízos que isso acarreta para o ambiente, sublinha o PNUMA de Nairobi.
Além disso estas espécies são vulneráveis aos desafios postos pelo ambiente, mudanças climáticas, insectos e doenças de culturas.
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- A história recente está cheia de exemplos de culturas e plantações devastadas por súbitas epidemias e insectos novos ou velhos que se adaptaram.
Em 1970, a ferrugem atacou bruscamente as culturas do milho nos EUA, deixando aos estados do Sul apenas metade das colheitas habituais. Comentário do Dr. William Campbell, do Ministério da Agricultura dos EUA: «Estávamos nós satisfeitos, calmos e despreocupados...os Híbridos iam muito bem, quando de repente a doença atacou.»
Um exemplo mais recente é a propagação - no espaço de três anos - de um pulgão castanho de arroz, que passou do estado de curiosidade académica ao de flagelo chave, devastando milhões de hectares de arrozais na Ásia do Sul e Sueste.
Também a desflorestação contribui para liquidar um número quase infinito de espécies vegetais selvagens (a tal «riqueza genética»).
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-Quando tudo isto foi constatado pelos próprios que tinham criado a situação «apocalíptica» (FAO incluída) é claro que não foram eles a dar o alarme mas foram eles que começaram a preparar-se para recuperar a situação de novo a seu favor, arrebanhando os genes que ainda conseguiram encontrar.
E foi assim que as sementes se tornaram uma mercadoria preciosa. As companhias multinacionais lançam-se na corrida para a sua conquista. As sementes tornam-se um dos maiores negócios dentro do «agrobusiness» multinacional. Fornecedores locais nos países do Terceiro Mundo recolhem sementes raras para as expedir para as companhias ocidentais que vão organizando assim os seus «bancos de sementes» guardados por arame farpado...
A Estratégia Mundial da Conservação não o oculta : «Os produtores de plantas (de valor comercial) e os fornecedores de sementes «registam patente» de certas espécies e exigem «royalties» para a sua utilização.
Perante esta situação de monopólio que estrangula a humanidade esfomeada e ameaça fazer depender de meia dúzia de empresas todos os nossos estômagos, o PNUMA propõe uma estratégia internacional mas não multinacional... Propõe os centros Vavilov (do cientista soviético que lhe dá o nome) , onde uma extrema variedade genética é posta ao serviço do Terceiro Mundo, sem intermediários.
Paradoxalmente, era o Terceiro Mundo que possuía essa riqueza genética já que o mundo industrializado está excluído dos centros de diversidade genética».
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O DIREITO (E DEVER) DE SER INSTRUTOR
EM RADIESTESIA E CIÊNCIAS SAGRADAS
APRENDER A BIONERGIA
CONTRA AS CIÊNCIAS PROFANAS
MANIFESTO ANARQUISTA 1995
POR AFONSO CAUTELA
Quando me perguntam qual é a minha formação académica e qual é a ciência (ou universidade) em que sou diplomado para poder ser instrutor de Radiestesia & Ciências Sagradas, respondo com toda a serenidade mas também com toda a indignação que a pergunta naturalmente provoca, que me sinto com todo o direito e dever de ser instrutor em radiestesia & ciências sagradas, pelas razões a seguir expostas:
1 - O reinado das ciências profanas e seus sacerdotes (cientistas e respectivos universitários), está chegando ao fim. Possivelmente não vão até ou além do ano 2000.
Tudo o que as ciências profanas conseguiram fazer do ser humano é este subproduto que está à vista (e à venda) de todos e que os referidos cientistas não se cansam de criticar como se não tivessem sido eles que o produziram.
Roger Garaudy, um marxista convertido ao chardinismo e mais recentemente ao islamismo, traça-nos, com o seu habitual poder descritivo, uma sucinta monografia (*) dessa miséria e dessa abjecção a que a humanidade está chegando, em 1995. O reino da Quantidade, como dizia Guénon, o reino dos três M (Merda, Morte, Mentira) como eu digo.
2 - Há, portanto, que formar, rapidamente, instrutores em radiestesia e ciências sagradas, e ninguém tem que pedir a ninguém diploma para isso. É obrigação de todos e de cada um, em casa, no emprego, na escola, no estádio, na praia, no eléctrico, no comboio, não perder tempo com fofocas nem fazer perder tempo aos outros.
Pegar no Pêndulo e começar o movimento rumo às 12 ciências sagradas é assim o primeiro dever e direito de quem toma consciência da situação.
Todos podem ensinar o que aprenderam a toda a gente: Dever e direito tanto mais imperioso quanto é certo que, em nome das energias e das bionergias, se praticam hoje as maiores barbaridades e se cometem as mais infames fraudes.
3 - Proibir um aprendiz de radiestesia holística & ciências sagradas de ensinar radiestesia aos seus filhos, irmãos, pais, avós, familiares, amigos, inimigos, colegas, é querer ressuscitar o vício do poder-que-dá-o-saber, vício de que as ciências profanas se encontram literalmente contaminadas e que, à face de Deus, totalmente as condena. Vício que, ao longo dos milénios, deu o usufruto da saber e do ser a uma casta de sacerdotes chamados doutores. Há milénios que essa casta monopoliza o saber e o poder que o saber dá. É tempo de lhes acabar com o negócio.
4 - Não há que proibir ninguém de ensinar o que souber, pouco ou muito que seja.
Se nos seminários de «Radiestesia e ADN», dados no Hotel da Lapa, não se atribuem diplomas, mais uma razão para ficar livre o caminho, em Portugal, ao ensino da Radiestesia, com o direito de cada um ensinar ou não ensinar o que sabe (o pouco que lhe ensinaram) como muito bem entende.
Consciência, responsabilidade, justiça - é o que se lhe exige. Mas a todos sem excepção - aos que se arvoram em mestres e aos que ficam condenados a ser coisa nenhuma toda a vida - é responsabilidade e consciência o que se exige.
Se não há diplomas, toda a gente fica livre de fazer do que aprendeu o uso que quiser. E alguns, diga-se de passagem, estão a fazer um péssimo uso.
5 - Seria estranho que a radiestesia holística, actividade essencialmente criadora e destinada a combater o assistanato e a monodependência, pusesse à partida embargos à intercomunicação das informações.
A urgência de passar a Boa Nova é tanta, que será melhor passá-la com dificuldades de expressão do que continuar, como fazem os donos das ciências profanas e respectivas universidades, a guardar o saber-que-dá-o-poder. Para o explorar e rentabilizar à boa maneira capitalista-marxista-leninista.
6 - É triste que os 4 proprietários da «Radiestesia & ADN» em Portugal queiram o monopólio das ciências sagradas tal como os catedráticos e universitários das ciências profanas detêm o monopólio das ditas cujas.
Os seres humanos foram sempre oprimidos por 3 instituições: Igreja, Estado, Exército. Mas acima dessas todas e a todas dando alento, a Universidade é quem tudo pode e quem forma e diploma todos os poderes.
Ser instrutor de radiestesia & ciências sagradas é hoje, além do mais, um dever de humanidade de cada ser humano com outros seres humanos seus companheiros de infortúnio. Aqueles que para falarem com outro ser humano não lhe perguntam primeiro qual é a sua formação académica...
Um dever que implica cortar de vez o cordão umbilical que cria, sustenta, multiplica, amplia e lança sobre os seres humanos, oprimidos, as 4 instituições opressoras por excelência do famigerado Mundo Moderno.
7 - Ser instrutor de radiestesia & ciências sagradas é hoje, em 1995, o primeiro dever de um verdadeiro anarquista. Um verdadeiro anarquista não deverá nem poderá ceder um milímetro às ciências e aos poderes profanos.
Porque é de servir a deus, ao sagrado e ao espírito que se trata. E o mais depressa possível, como explica Roger Garaudy.(*)
Paço de Arcos, 1 de Agosto de 1995
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(*) In «Será que Precisamos de Deus», de Roger Garaudy, Círculo de Leitores
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CONTRA A CIÊNCIA ORDINÁRIA ( O TEMA TABU POR EXCELÊNCIA)
Em itálico os neologismos AC
1989 -
I - Gritam pelos bombeiros mas, enquanto gritam, vão ateando o fogo ou não fazem nada para o apagar.
Assim se pode definir em expressão jocosa, a situação criada pela ciência oficial estabelecida relativamente ao estado de guerra perpétuo que é o estado normal e crónico da sociedade industrial.
Fizeram o mal e agora fazem a caramunha.
De facto, o mito da neutralidade, com o qual se mistificaram várias gerações, serviu plenamente o objectivo pretendido.
De fora do processo, sempre neutros e independentes (como diz o da pasta dentífrica), os cientistas assopram as chamas e agora, armando ao inocente, armando mesmo em vítimas (da incompreensão geral e da geral ignorância das massas e dos leigos) gritam por socorro.
São então chamados amigos da paz e da humanidade.
II - Como tenho verificado pela reacções aos textos onde analiso os mitos da ciência oficial, a surdez é completa; eles já perceberam que lhes toco onde mais lhes doi e censuram: há uma supercensura em tudo o que critique e ponha em causa a religião da ciência;
- Penso que a religião da ciência, hoje vigente a Leste e a Oeste, é o tema principal do ecologista no que evidentemente não sou seguido, nem entendido, nem percebido por nenhum dos que se dizem ecologistas;
- Por mais que os idólatras do progresso manifestem a sua tecnodelinquência através de todo os seus tecnofascismos, a malta não compreende que os desastres e catástrofes e crimes desta desastrosa sociedade industrial têm todos origem na ideologia ou religião do cientismo (que ainda por cima é anticientífico, na medida em que é sintomatológico e não causal);
- Os canibais da civilização: até quando abusareis da nossa paciência?
- Temas de um texto que permanece (obviamente) inédito: porque são os cientistas culpados da destruição ambiental? Porque são eles os cúmplices do genocídio em particular e do ecocídio em geral? Que raio de ciência é esta que mata, adoece, esfola e aliena?
- Mais temas do ensaio que permanece (obviamente) inédito: os dogmas da fé científica, a religião da ciência, os cientistas no banco dos réus, os chacais da sofística, os burocratas da ciência, os mega-palermas das megatoneladas, os engenheiros do ambiente...
1989
DIÁRIO DE UM LEITOR DE JORNAIS
DIÁRIO DE UM ANARQUISTA ACIDENTAL
TÍTULOS & ANÚNCIOS
11/3/1989/ 27/5/89/ 19/8/1989 - Foi uma semana e peras nos títulos dos jornais : «Cacem a bruxa do Murtal», «Linchem o Negro da Bobadela», «Metam o louco no manicómio», «Prendam os naturoterapeutas que curam», «Investiguem o caso de corrupção das alfândegas», «Processem uns senhores que andam praí a dar notícias», «Analisem as urinas por causa do doping», «Internem os gafados da SIDA», «Detenham para averiguações o cigano que vende carpetes».
Com tantos bodes expiatórios, meticulosamente metidos em tribunal ou denunciados à polícia, as prioridades, portanto, totalmente invertidas, é então o momento azado de, neste Estado de Direito às avessas, tranquilamente
instituições
serviços
ministérios
multinacionais
polícias
lobbies
partidos
academias
universidades
trusts
clubes
viverem a bela vida da total impunidade.
E ainda dizem que a vítima não serve para nada?
Que seria do Poder sem tanta vítima e sem tanto bode expiatório? Que seria do poder, se não tivesse, quando fica de aflitos, uma classe profissional submissa, mal paga, sorridente, humilhada de manhã à noite, escorraçada quando não precisam dela e aliciada quando dela precisam?
E que anúncios maravilhosos a classe dos privilegiados tem à disposição: «Rio, meu cetim líquido», «Apartamentos excepcionais, com lareira, garagem e arrecadação», «Deslumbrante vista de mar sobre a praia», «Óptimas vistas sobre o pinhal e o mar».
Em registo menos idílico mas igualmente sedutor: «Apartamentos de luxo-lugar de estacionamento», «Materiais e acabamentos de grande qualidade», «Oportunidade única hoje, grande valor amanhã», «Moradias e andares para alugar a estrangeiros», «Zonas verdes, clube privativo, piscinas, ténis e todos os equipamentos», «Habitação e comércio de qualidade».
Alguém falou de crise de habitação?
Mas crise onde?
Crise para quem?
Se o Estado tem que fazer alguma coisa, de certeza que não são «casas para pobres», isso foi chão que deu uvas. O Estado deve proteger os desprotegidos construtores que continuam dando o melhor do seu esforço para haver em Portugal habitações condignas para estrangeiro morar, para haver, enfim, qualidade de vida.
Ou há moralidade ou comem só alguns.
(Ver CPT, «Especiarias por missangas - O preço a Pagar»)
1987
25/7/1987 - Modernizar a ciência - Limites da tecnocracia - Para o investigador livre, não sujeito a obediência de escola ou empresa ou academia, os maiores desafios da ciência apresentam-se hoje nas zonas de fronteira - ou interfaces - entre as várias disciplinas constituídas e que, por imperativo metodológico, se foram separando de uma matriz ou unidade original.
O grande desafio, hoje, é também um convite à reunificação do conhecimento, à re-globalização do que foi pulverizado e que, por essa razão, deixou de ser científico (isto é, não sectário nem sectorial) na medida em que deixou de ser universal.
Há um limite lógico para as tendências de um método: e passar os limites em que ele foi eficiente pode conduzir a um limiar em que ele começa a ser ineficiente e, em última instância, destrutivo do meio ambiental.
A crítica feita hoje à análise científica e seus exageros, surgiu de forma indirecta: pode ser a consciência ecológica, por exemplo, a mostrar, pelos resultados ou efeitos, até que ponto a ciência passou a linha de segurança e a linha da sua própria coerência, para se tornar uma amálgama caótica que ninguém já é capaz de controlar.
A crítica do conhecimento científico (Epistemologia) não se tem mostrado suficientemente «corajosa» para acompanhar os desafios da realidade e de algumas vozes (de filósofos) independentes, sem obediência nem subserviência a escolas, universidades, empresas e academias.
Automaticamente, verifica-se uma certa marginalização dessas vozes, talvez porque são incómodas ao lembrar os limites e os abusos da ciência, muito mais controlada hoje pelas tecnologias de ponta da sociedade industrial do que pelo objectivo humanista de ser, saber e conhecer.
Objectivo humanista é algo, aliás, que hoje parece não competir já ao cientista, sempre a lavar as mãos como Pilatos das consequências que o seu trabalho pode ocasionar no homem e no ambiente humano.
Sob a capa de «novas tecnologias», ou mesmo de uma alegada «avant garde» e de uma new age, mais influenciada por tropismos da moda comercial do que por motivações profundas em sintonia com a essência dos direitos humanos, a ciência torna-se assim pouco aliciante para o jovem que, apesar de tudo, ainda mantenha uma certa linha ética de conduta, ainda acredite em alguma fé e não perfilhe o social-niilismo a que ciências, filosofias e artes das últimas décadas o empurram com particular violência.
Tolhido pela autoridade dos mestres, agora travestidos de modernistas para encobrir a sua essência de académicos e escolastas, o jovem não se atreve a reconhecer um novo academismo que vem com rótulos insistentes do «novo», do «vanguardista», do «moderno».
Mas é um facto que esta vanguarda, assumida ou disfarçadamente tecnocrática, oculta um academismo, uma mentalidade conservadora, uma falta de iniciativa e de imaginação, uma moral de conveniência obediente aos ditames puramente comerciais do oportunismo e da moda .
Há talvez que voltar ao esquema claro e clássico das principais etapas que o investigador propunha para o avanço das ciências, entre as quais (etapas) a hipótese de trabalho (ou imaginação criadora) era fundamental.
Ninguém hoje, nos meios da chamada «pesquisa científica», põe hipóteses de trabalho criadoras: e só a imaginação pode ser, no campo do conhecimento, revolucionária. Pelo que parece abusiva e oportunista a ideia tornada corrente de que é revolucionária qualquer mudança tecnológica dentro da lógica tecnocrática.
No discurso dos tecnoapologetas, com efeito, usa-se e abusa-se da palavra revolução, indo ao ponto, caricato, de chamar «revolução industrial» ao começo histórico da reacção.
Afinal, face à consciência crítica da ecologia, o que será hoje mais revolucionário:
- O que teima em prorrogar a utopia tecnocrática, em todos os campos das tecnologias de ponta alienantes
- Ou os pequenos grandes contributos da tecnologia intermédia ou eco-tecnologias, criadoras de uma sociedade alternativa à engrenagem sem futuro do macro-sistema?
A linha de demarcação entre o que é e o que não é revolucionário, passa, de qualquer modo, pela ecologia, pelo pensamento ecologista, desde que radicalize suficientemente os postulados, até agora inamovíveis, de uma comunidade científica (assim autodesignada) tornada igreja universal, repetidora de dogmas imutáveis.
O campo fascinante que hoje se abre ao investigador livre e jovem é o das interrogações fundamentais, aquelas que põem em causa ou em questão os dogmas da tal igreja ou ciência estabelecida.
Muitos são os livros, as obras, os autores, os relatórios, os temas onde esses desafios podem ser claramente ouvidos pelas novas gerações de investigadores.
Ciências malditas, ciências paralelas, anticiência, ciências do maravilhoso, ciências diferentes, ciências sagradas ou ciências do sagrado - seja qual for a designação que o macrosistema já deu a este campo holístico da investigação aberta ao futuro, o que importa reter , com firmeza, é que nesse campo está o melhor e o pior, o trigo e o joio, da ciência futura.
Há, portanto, que separar o trigo do joio, sem dúvida, e essa é a primeira grande demarche para o jovem investigador livre.
Separar o válido do inválido é, neste caso e neste campo, um trabalho de intuição ou percepção crítica, fase tão importante na carreira de um cientista como a já citada e fóra de moda «hipótese de trabalho».
Há coisas aparentemente antiquadas que voltarão a ser modernas, há coisas aparentemente de vanguarda que terão de ser enterradas quanto antes.
Acima de tudo, o investigador livre não poderá encarreirar nos falsos caminhos propostos que são apenas os caminhos das multinacionais da química, da petroquímica, da farmácia, do electro-nuclear, ansiosas de que seja o Estado e as instituições do Estado (quer dizer, os cidadãos contribuintes) a pagar a pesquisa «científica» que elas aproveitarão para seus interesses e lucros corporativos ou privados.
1974
1/3/1974 - CIRCULAR DE UM ESCRITOR POBREZINHO A PEDIR EMPREGO - Meu caro amigo e senhor: Farto de meias palavras e meias tintas, de censuras e auto-censuras, de inibições, complexos de culpa e timidez, farto de estar farto, venho submeter à atenção de V.Exª algumas considerações que reputo oportunas e susceptíveis de merecer indignada repulsa de V.Exª , que também deve estar farto daquilo que eu estou.
Antes de mais, o senhor deve estar farto de lhe entrarem em casa cartas como esta, copiografada, tipo circular, pedindo-lhe a esmola de uma assinatura, convidando-o a comprar um livro que se lhe manda pelo correio, violentando-o na sua intimidade e na sua contabilidade.
Deve o senhor, também, estar farto de aceder a pedidos tais, ou não aceder. E deve igualmente estar farto de livros que não lhe interessam, que são só para vaidade do autor, oportunismo do editor, ou.
Mas como, pela minha parte e agora na pele do autor, também estou farto de muita coisa, desculpará V.Exª mas vou fazer de V.Exª mais uma vítima de uma circular que vem pedir uma nota sua de 50$ para livro que mandei imprimir à minha custa, na tipografia Gazeta do Sul e de que desejo enviar-lhe um exemplar.
Título: Manifesto contra o Meio Ambiente - II
Subtítulo: A Utopia Personalista
Páginas: Duzentas e tal
O livrinho em questão será impresso com todas as licenças, não é pornográfico e tão pouco conhece palavrões além daqueles que o seu filho de 5 anos já conhece. O livrinho em questão terá 1000 exemplares de tiragem e não vai ser best seller de livraria; o livro que lhe prometo à cobrança lá para Junho (Dia Mundial do Ambiente) é bem intencionado, puro, angélico, platónico, pacifista quanto baste, radical mas convivente, constestatário mas implacável com a mentira, a demagogia, amigo do pobre, do viúvo e da criancinha diminuída.
Palavra de honra que amo as criancinhas e por isso escrevi este livrinho que ninguém quis editar - no desejo de que não destruam e corrompam mais o mundo onde elas (criancinhas) hão-de querer viver, ainda que diminuídas; o livrinho pelo qual troco 50$ dos seus, é manifesto a favor de tudo o que V.Exª encontrar, no Universo, amável e digno de ser amado; é um livro incurável, mas útil aos incuráveis; não é ficção, poesia, narrativa, já não há tempo a perder com frioleiras, e o livro quer dizer-lhe que não, que o grito Utopia ou Morte é já e já a decisão; um livro urgente e que (lhe prometo) continuará a ser escrito à medida que a humanidade está procedendo ao extermínio de si própria.
Isso lhe juro e garanto sobre o meu cadáver...
É que - saiba V.Exª também - estou farto de escrever para a gaveta; de prégar aos peixinhos, de dar pérolas a porcos, de pensar dentro da tumba.
Farto de truques: o amigo que telefona a dizer que os tecnocratas se vão rir; outro que me chama lunático por vir defender eu o que toda a gente ataca, mata, corrompe; outro que acusa o meu idealismo e o meu amor à Natureza; outro que admira a campanha ecológica mas acha mais utilitário o seu Fiat; outro que disfarça o despeito e a raiva; outro que não responde; outro que responde para elogiar a qualidade do papel do livro que lhe enviei; outro que diz não ter percebido.
Farto de críticos portugueses e da sua nulidade balofa lantejoulada de fantasias circenses; farto dos intelectuais irremediavelmente obedientes ao umbigo dos mito e das conveniências do grupo, do partido, do quintal; farto de me dizerem que não sirvo para darem o trabalho a outro que ainda serve menos graças a Deus; farto de humildade e de modéstia; farto de me dizerem que não sou doutor e que falo por despeito contra os doutores; farto de esperar como o Fernando Pessoa que seja a posteridade a desenterrar os manuscritos da arca.
Daí esta carta a prometer que não desistirei e que, silêncio e hostilidade, nada me afectará.
De facto, não me importa o silêncio e a hostilidade com que recebam este livro ou os que tenciono publicar a seguir na mesma linha de utopia personalista. Nesses ensaios de ecologia humana, ocupo-me de apresentar hipóteses de trabalho que abram horizontes ao desespero da humanidade actual. Pensar é ensaiar, errar, caminhar. Prefiro errar, a pisar caminhos já trilhados.
Se escolhi no I capítulo o petróleo para ensaiar uma dialéctica e ecologia da crise, não foi por oportunismo editorial, mas porque essa matéria (prima) se presta, como ponto de encruzilhada, a levantar questões de método que considero importanrtes para quem não ande neste tempo e mundo só por ver andar.
Com o relatório do M.I.T. , a polémica dos recursos planetários entrou na fase aguda da controvérsia. Mais uma vez, o sistema recuperou a seu favor as críticas que lhe são feitas como sistema depredatório, ecocida e homicida. Denotando maior ou menor capacidade contra-ofensiva, usou desta vez um estratagema claro já usado em outras ocasiões: se os computadores afirmam que os recursos em matérias-primas e bens de base (água, oxigénio respirável, solos, segurança, silêncio) se encontram à beira do esgotamento devido ao modelo de crescimento utilizado, eis que o «sistema do desperdício» só podia ter uma resposta: encarecer esse bens cada vez mais raros (caros) , em vez de mudar radicalmente o modelo de crescimento que à delapidação sistemática e ao apocalipse ecológico nos tem conduzido.
«Depois de nós, o dilúvio» tornou-se o lema dos que não se importam com quem vier depois, contanto que nada se altere dos costumes mentais vigentes.
É para os que vierem depois que escrevo e continuarei escrevendo, para os que, ao abrirem os olhos, irão encontrar um Mundo queimado e destruído onde será impossível sobreviver. O que hoje parecem teses utópicas tornar-se-ão, em breve, por força dessa inadiável sobrevivência, o pão nosso de cada dia. Saberei esperar o dia (próximo) em que os factos me darão razão, ainda que hoje esteja em esmagadora minoria.
Se cito Ivan Illich, é não só porque encontro no seu radicalismo um aliado do Terceiro Mundo mas porque me agrada o tipo de discurso caquético que os seus livros desafiantes provocam nos adeptos da actual «ideologia do desenvolvimento» (Konrad Lorenz). E tenho a pretensão de me considerar muito mais radical do que Illich, vejam lá...
Mas os meus grandes aliados não são escritores e pensadores, por muito de vanguarda que os considere: são as gerações que vão agora nos 15 e 20 anos, serão dialecticamente o desespero, o congestionamento, a maciça intoxicação, as endemias, o niilismo que eles irão encontrar, que já estão encontrando num mundo onde não é possível nem amável viver. Queiram ou não os que estão teimando nesse modelo e acreditam que o futuro será de centrais nucleares (sic), a ideologia do desenvolvimento terá em cada mês mais noventa mil Sicco Mansholt a contestá-la.
À Sofística do século XX, aparentemente triunfante, irão opor-se os que defendem com alma um modelo de utopia personalista (humanista), de que me preocupa ir desde já descobrindo algumas linhas gerais e alguns pormenores.
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Lisboa, 28/10/1983
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- Em cada momento histórico e em cada lugar da Terra, os desafios lançados à inteligência e à imaginação dos homens variam de intensidade. O que actualmente se chama crise é um desses desafios e tem causas próximas e longínquas, quer ideológicas, quer de estrutura e organização.
Mas um facto é reconhecido por todos: a chamada «revolução» industrial, designação já de si autocontraditória e tendenciosa, contribuiu fundamentalmente para a sistemática e metódica destruição de recursos e riquezas, de culturas e civilizações, de raízes, de fontes, valores e património.
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- Quando em 1983 se assiste, por exemplo, à destruição de uma antiga indústria nacional - o vidro - assassinada pelo plástico ordinário e pelas multinacionais da petroquímica (a que em 1998 se deverá juntar a concorrência de monopólios vidreiros estrangeiros, (nomeadamente o francês Christal d'ARC), quando a grande indústria pesada destrói a pequena e média, é simultâneamente uma questão de ecologia e património que se põe, quer dizer, uma questão simultaneamente ética e económica.
Conservar a cultura e a civilização significa conservar o equilíbrio ambiental, as relações subtis e qualitativas, as nuances e as diferenças, a identidade, a singularidade, enfim, numa só palavra, a liberdade.
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-Indústria barbaramente assassinada, o artesanato tem toda uma história para contar às novas gerações, elas também atiradas pelo sistema industrial ao lixo da história chamada desemprego. Com as artes e os ofícios que estão morrendo é a liberdade humana que está morrendo também.
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- É dessa perspectiva que o realismo ecológico vê o artesanato, que outros encaram como assunto de turismo ou comércio externo. No meio dos equívocos sobre artesanato que se vende, que se compra, que se mistifica, que se aliena, o trabalho livre artesanal é a própria essência da liberdade e da democracia.
Esta a tese da comunicação apresentada pela «Frente Ecológica» ao I Encontro Regional do Sul sobre Património.
Quando a proletarização deu lugar ao trabalho livre artesanal, estava aberto o caminho para a ditadura tecnofascista que caracteriza a Idade Moderna, a Leste e a Oeste, chamada por alguns «revolução» industrial.
O «proletário», com efeito, é uma criação recente e significa que o trabalhador só possui , como riqueza e propriedade, a sua prole. De tudo o mais foi espoliado, para que sobre ele, total e definitivamente alienado, ditadores de esquerda e de direita erguessem os seus impérios de sangue.
Ergueram. Não sem que algumas bolsas de resistência , aqui e ali, teimassem em sobreviver.
O trabalho livre artesanal é assim o património mais precioso que Portugal pode oferecer ao movimento internacional do património e à resistência universal contra o genocídio.
O assassinato de artes e ofícios - os tecelões da liberdade - tem sido perpetrado por todos os sistemas económicos hoje vigentes, quer os do bloco capitalista quer os do bloco anti-capitalista.
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- Os tecelões da liberdade que ainda resistem foram matéria de reportagens realizadas pela «Frente Ecológica» em diversas circunstâncias.
O estudo analítico e sistemático dessa resistência, com base nessas reportagens, é feito na comunicação apresentada pela «Frente Ecológica» ao I Encontro Regional do Sul sobre Património e intitula-se «Os Tecelões da Liberdade». ■
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