sábado, 8 de novembro de 2008

COSMOSOFIA 2012

O texto a seguir foi escrito em resposta à jornalista Helena de Freitas que me questionou sobre o tema «ser jornalista e eco-militante»: se havia ou não incompatibilidade, quis ela saber. Lá me expliquei conforme soube e tive depois a satisfação de ver publicadas 10 linhas desta prosa, no artigo de uma página, na revista «JJ», do Clube dos Jornalistas . Aproveito agora para mostrar que ainda tenho jornalistas no presente interessados em saber do meu passado.
Aí fica, com a minha gratidão à Helena de Freitas, minha querida colega.

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A IDEIA ECOLÓGICA E SEUS MILITANTES

O militante da ideia ecológica, em 2006, tem todo o direito de se considerar investido de uma «missão»: talvez não seja a de salvar o mundo ou as almas, que é uma meta demasiado ambiciosa, mas contribuir, grão de pó perdido no espaço, para ajudar o «imperativo cósmico» a realizar-se.
Potencialmente e segundo os dados das biocosmologias ancestrais e modernas (aquilo a que a Astronomia científica chama «precessão dos equinócios»), a Era do Aquário está aí e podemos (devemos?) aproveitá-la. O eco-militante encontra-se na primeira fila dessa acção: que dantes, nos tempos heróicos do Movimento Ecológico Português (M.E.P.), do jornal «Frente Ecológica» e da «Ecologia em Diálogo» (na rádio), se traduzia nas famosas «manifs» e «agitações de rua» mas que hoje tem um estilo de actuação mais concreto e ao mesmo tempo mais profundo.
«Pensar globalmente e agir localmente» - lema desses anos pioneiros - tem hoje a sua expressão nos grupos locais de activistas, entre os quais a rede Quercus se destaca e continua, dia a dia, a desenvolver-se. Pessoalmente não concordo com algumas tácticas pontuais utilizadas – uma certa obsessão das chamadas «acções cautelares», por exemplo, – mas na estratégia em geral acho que fazem um bom, um belíssimo trabalho.
Dos jornais e telejornais também não nos podemos queixar: nesse campo, como em tantos outros, temos o que (colectivamente) merecemos. E as excepções confirmam a regra. O gigantesco sistema dos media rege-se por leis internas para manter a sua homogeneidade: e o recurso ao chamado «debate», tratando-se da ideia ecológica, é apenas uma forma de cobrir e encobrir aquilo que o sistema não pode deixar de fazer, na sua inércia interna.
Os mídia têm obrigação de ajudar mas é evidente que a ideia ecológica só pode ser defendida em profundidade por militantes franco-atiradores e por autores individuais com a necessária independência de voz e de pensamento: que o jornalista profissional, por exemplo, não tem nem pode ter. Não é essa a sua obrigação, não é essa a sua função, não é essa a sua missão, pelo menos enquanto redactor de notícias, entrevistas e reportagens.
Fora das horas de serviço, ele tem todo o direito de se dedicar à militância ecologista como cidadão. No jornalismo, se o deixarem ter uma coluna de opinião, poderá expor as suas ideias mais genuínas e a sua orientação ideológica.
Considero-me um tipo feliz porque nos jornais onde andei me deram sempre essa dupla oportunidade:
a) fazer jornalismo de ambiente, com as limitações necessárias ao trabalho de
informação que se reclama de alguma objectividade;
b) manter uma coluna de opinião onde tentava ser o militante anarco-libertário que não podia nem devia ser no trabalho jornalístico.
Lembro aqui, com enorme gratidão, as oportunidades que, em ambos os sentidos, me foram dadas nos jornais por onde andei: «O Século» (onde publiquei dezenas de reportagens sobre o ambiente - o «verde» e o «negro» deste país); «O Século Ilustrado» (onde publiquei reportagens, entrevistas, separatas sobre temas de ambiente e uma coluna «O Futuro em Questão» sobre Eco-prospectiva); «Portugal Hoje» (onde, entre outras novidades, me deixaram fazer coisas sobre «ecologia do trabalho»); «A Capital» onde entrei por empenho do Rudolfo Iriarte, que me convidou para escrever uma coluna semanal, aos sábados, sobre ambiente. Ainda hoje não compreendo como isso foi possível, mas a verdade é que a «Crónica do Planeta Terra» durou 12 anos...E onde nunca houve a mais pequena restrição às minhas opiniões de militante.
Inclusive deixaram-me entreabrir aquilo a que chamei os «dossiês do silêncio», temas que se foram tornando cada vez mais tabus e de que pouco ou nada se falava e se fala ainda hoje.
Era giro que a nova geração de jornalistas (especialmente senhoras que estão a fazer um trabalho brilhante em jornais de grande circulação) se interessasse em desvendar esses dossiês secretos e já que também nos encontramos em tempo de decifrar códigos e segredos... Ao que parece, os best sellers dão bons lucros aos editores.
Militantes da Esperança, precisam-se.
E já só temos seis anos da Era Cristã para mostrar o que valemos.
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O CATASTROFISMO VIROU MODA E IDEOLOGIA POLÍTICA

Nos anos após o 25 de Abril de 1974 (durante o chamado PREC, processo revolucionário em curso), o militante da ideia ecológica era considerado um «alarmista» e um desmancha prazeres, quando não era um retinto fascista que não respeitava o progresso tecnológico e todas as megalomanias dos megaprojectos. Dominava e predominava o discurso dos «amanhãs que cantam» com as tecnologias de ponta e as indústrias pesadas e hiperpoluentes a comandar a procissão. Sines e Alqueva superavam Nossa Senhora de Fátima em capacidade milagreira de nos resolver todos os problemas.
Depois, ainda no calor da guerra fria, quando os partidos verdes começaram a florescer na Europa (França e Alemanha) já era de bom tom que um partido se debruçasse (sem cair) sobre o ambiente, sempre na perspectiva reformista da anti-poluição que muito pouco tem a ver com uma ideia ecológica de fundo (prospectiva, preventiva e profiláctica), mais tarde descoberta sob a designação de «deep ecology».
O Partido Verde, criado pelo PCP e que começou por usar o nome de Movimento Ecológico Português (associação criada em 1975 e com estatutos publicados no Diário da República) chegou à Assembleia da República. Muitos anos depois, com o Partido da Terra, malogrou-se uma esperança: a de um partido independente de outros partidos. Paulo Trancoso, Ribeiro Telles, Delgado Domingos trabalharam por isso mas a conjuntura já não lhes era favorável e tiveram que se socorrer de um partido dominante para ganhar dois lugares na A.R., onde aliás têm feito um trabalho notável.
Tal como sempre quis o José Carlos Marques (que chegou a ser candidato à Presidência da República) os ambientalistas não se dão bem dentro de estruturas partidárias. Sentem-se melhor em rede. A Quercus é o melhor exemplo, com saldo positivo.
Curiosamente, a situação hoje é inversa da dos anos heróicos e pioneiros do movimento ecológico: ainda se rotula (embora menos) o eco-militante de alarmista, derrotista ou catastrofista, mas em contra-partida o discurso dominante em todos os sectores (e nem só no ambiente) é apocalíptico e catastrofista. O catastrofismo virou moda e ideologia política.
O militante da ideia ecologista, hoje, em que todos só falam em desgraças, vírus e aquecimentos globais, deverá estar na primeira linha para contrariar esta «onda negra» que hoje invade os mídia, multiplicadores de um estado depressivo e desesperado.
Provavelmente o Planeta Terra não vai ter muitos anos de vida e até ao dia 21 de Dezembro de 2012, segundo o calendário maya, iremos receber, tranquilamente, do Cosmos todos os sinais necessários e suficientes para saber o que fazer, individual e colectivamente.
Atenção, portanto, aos sinais que terão de ser descodificados, num tempo em que os códigos estão tanto na moda e se vendem tão bem.
Ajudar o Cosmos e a ordem cósmica nesse «imperativo» (paradigma) ao qual ninguém pode fugir e que nos é dado de bandeja, poderá ser hoje a missão do militante e do jornalismo militante.
O catastrofismo e negativismo de que nos acusavam nos tempos heróicos do movimento, pode e deve ser contrabalançado por todas as alternativas de vida que também foram sendo proclamadas (embora com menos veemência) pela ideia ecológica e seus militantes.
Se o ambientalismo casuístico é necessário e continua a ter um papel (reformista, digamos), alargar o horizonte da Terra até ao que chamo «imperativo cósmico» torna-se urgente. Até 21 de Dezembro de 2012, temos seis anos...
Tempo que as carpideiras do Juízo Final e os epígonos do apocalipse vão aproveitar para aumentar e multiplicar o estado de entropia do sistema que nos fez chegar exactamente aos apuros em que hoje nos encontramos: lutar pela neguentropia crescente que o potencial cósmico (macro e microcósmico) nos oferece de bandeja (com o nome lindíssimo de Era do Aquário), pode ser a melhor missão do militante e do jornalismo militante.

IDEOLOGIA DO SUSTO

Hoje todos tocam, como um disco riscado, a melodia da catástrofe que está na moda mediática e pelos vistos rende mais lucros. Economistas (com uma nova estatística todos os dias) e cientistas (com uma nova gripe das aves aterradora, dia sim dia não) alimentam os mídia.
As seitas apocalípticas, com milhões de fiéis e um poder financeiro superior a muitos estados, debitam o mesmo discurso aterrador, onde o pior do pior é sempre notícia de página e o melhor do melhor uma nota de rodapé (quando é).
Segundo a contabilidade deles, o medo parece que é lucrativo e os mídia investem no medo. No panorama internacional de canais que nos chegam por cabo, existe, que eu saiba, uma única excepção: o Canal Infinito, produzido na Argentina e que há seis meses nos chega em português. Espero que não acabem com ele: porque isso sim, seria, quanto a mim, o apocalipse. Ficaríamos exclusivamente entregues aos chacais esfaimados da destruição. Valia a pena o militante aperceber-se dessa voz no deserto: tal como nos tempos heróicos do movimento ecológico, sabemos bem dar valor à voz que prega no deserto.
Desde sempre se sabe que o desespero paralisa a acção: o que querem os lobbies da destruição (agora encabeçados, entre nós, pelo apocalipse da biomassa - 15 centrais 15!, depois do rotundo fracasso do lobby pró-nuclear) é precisamente o catastrofismo convertido em ideologia política. Porque eles, afinal, com suas loucuras e barbaridades, é que nos irão «salvar» de todas as crises e catástrofes.
Compete ao militante e ao jornalismo militante não se deixar indrominar por estes salvadores da pátria, do mundo e das almas.
Essa é a missão do militante até 2012: não se deixar indrominar e não indrominar os seus compatriotas.
«Manipulai-vos uns aos outros» era um slogan dos tempos heróicos que o militante nunca aceitou e que deve continuar a não aceitar. Eles que se manipulem uns aos outros (com alguns, poucos, jornalistas a ajudar em livros sobre o futuro radioso do Nuclear), que se comam uns aos outros e que nos deixem a nós em paz : são os meus votos de ano novo.
Como sou obscurantista, segundo alguns especialistas do nosso meio ambiente (vide Ambio Archives), ainda levo muito a sério a batalha entre a Luz e as Trevas, a grande batalha do Armagedão.
Por isso digo: militantes da Grande Esperança, precisam-se.

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