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Sexta-feira, 25 de Julho de 2003
A EPISTEMOLOGIA: UMA FILOSOFIA IMPOSSÍVEL
1987 - Se os que falam em "projecto enciclopedista" acreditassem nisso e pusessem os meios informáticos de que dispõem ao serviço da verdade, já estaria nesta altura em esboço, ou já seria mesmo uma realidade, o Banco (de dados) das Ideias, com referência rápida às ideias e seus criadores, pensadores de ponta e de fronteira, aos "inconformistas" que analisaram, ponto por ponto, o "sistema que vai matando os ecossistemas", concluindo pela sua falência e morte inevitável.
Ernst Frederich Schumacher, com o sentido prático da sua formação budista, propôs imediatamente as eco-alternativas, a que chamou "tecnologia intermédia".
Em Cuernavaca, México, Valentina Borremans e Ivan Illich elaboraram, em 1978, o "catálogo" das ferramentas conviviais, realizando a primeira bibliografia exaustiva da "tecnologia que liberta", recolhida das mais importantes bibliotecas do Mundo.
O "projecto enciclopedista", que não seja para perpetuar o academismo institucional da filosofia, é evidentemente outra coisa.
Um "projecto Enciclopédico" tem agora um sentido selectivo preciso, recusando um outro mito da ideologia dominante - o mito do ecletismo.
A abordagem holística referida por Fritjof Capra, na sua obra “The Turning Point” ("A Era da Transmutação" em edição francesa e “O Ponto de Mutação” em edição brasileira), prova de que há hoje um único sentido para o "enciclopedismo", que é estabelecer as "pontes" com as fontes da sabedoria original e tradicional viva.
Ele próprio, no livro " O Tao da Física" (Ed. Presença, Lisboa, 1989) empenha-se a fundo em mostrar que a Física atómica afinal "confirma" os princípios em que se funda a tradição científica taoísta.
Alguns dos Prémios Europeus de Ensaio, nomeadamente Jacques Ellul (talvez o mais feroz crítico do macrosistema e do seu subsistema universitário, depois de Ivan Illich) ou Ernst Frederich Schumacher, não tiveram vergonha de se confessar, em matéria económica, influídos pela sabedoria budista.
É que, para criticar este sistema ideológico e sua intrínseca violência na praxis histórica, só uma violência de sinal contrário pode servir de suporte e raiz ao pensamento.
Quando se radicaliza, como Schumacher radicalizou, mostrando as raízes podres da "civilização" (desta civilização), toca-se o fundo e as fontes brotam: é inevitável que o percurso aí, passada a ponte, se tenha de fazer nas várias vias da tradição universal. quando
E quando o diverso converge no universo humano (Holística), a verdade vem à tona, torna-se axioma, ilumina a realidade e aponta o caminho, ilumina o percurso.
RADICALIZAR A CRÍTICA DA CIÊNCIA
Independência do sujeito relativamente ao objecto de estudo, como pode o filósofo que se deixa prender nos pressupostos da ciência, reflectir sobre ela?
Se leva a sério os pressupostos da ciência - e a sua lógica totalitária - como pode questioná-la?
Como desenraizar este paradoxo da epistemologia e radicalizar a crítica da ciência?
Ignorando, por exemplo, tudo o que está para trás, até tocar as origens, seria uma forma: mas se a "filosofia das ciências" chega a Aristóteles e parou, como se história tivesse começado aí, sem se atrever a outras culturas e civilizações dos outros continentes da Terra, como desumbilicalizar esta concepção "europocêntrica" que mina, como um vício, toda a florescência cultural da ideologia dominante?
Se a (nossa) herança greco-latina teima em dizer que a história da Medicina começa em Hipócrates, quando a Medicina já atingira o apogeu, com a Acupunctura, mais de seis mil anos antes de Cristo na China, como acreditar nesta filosofia e nesta ciência tão greco-latina e tão presunçosa além de ignorante?
Para se pôr o dedo no centro da questão, será possível fazê-lo, sem um sismo profundo na ordem hierárquica da herança greco-latina e em todos os sistemas que a filosofia europeia foi arquitectando? Sem um sismo profundo na história da ciência ocidental?
E a crise ecológica, que põe no banco dos réus todos os seus responsáveis (ciência e tecnologia incluídos) como não começar por ela a análise do processo que culminou nas inenarráveis consequências "éticas" e "sociais" da ciência? Ou antes: da lógica implacável que o sistema do poder científico imprime a toda a realidade que totalitariamente pretende dominar?
CADA CIÊNCIA, UM CÓDIGO
Ao afirmar a especificidade de cada linguagem científica, Clark Glymour está implicitamente a reconhecer que há diversas linguagens e que estas não se entendem, como é natural, entre si: todos, quando participam em colóquios, se exprimem no entanto na linguagem de toda a gente... Ou antes, num híbrido que participa da livre iniciativa de qualquer ser falante e da obrigatoriedade estrita a regras de uma linguagem específica.
Nem peixe nem carne, portanto...
O "diálogo" entre filósofos da ciência, quando falam uns com os outros, com o público a ouvir de boca aberta, implica uma fé de cada um na linguagem do outro, uma consecutiva aproximação do que cada frase subentende e que é essencialmente fluido. A ciência (e a sua filosofia) implica assim uma atitude religiosa ou, pelo menos, de crença, porque, tal como na linguagem comum, nunca estamos certos de traduzir o que se ouve exactamente como o que cada um pensa. Se o próprio nunca tem a certeza de se ter exprimido como pensava, como hão-de ter os outros?
O distanciamento critico de Glymour em relação aos computadores e aos sistemas computarizados, implica um cepticismo que se repercutiu no seu discurso, um tanto melancólico, à procura do rigor e da objectividade perdida...
As ciências periclitam sempre na base das linguagens que as suportam e com as quais comunicam entre si ou para o mundo dos leigos.
A HISTORICIDADE DAS CIÊNCIAS
É frequente no discurso universitário sobre a historicidade das ciências, a paráfrase das paráfrases, que por sua vez ainda pode ser paráfrase de outra paráfrase. A tentação erudita ainda não abandonou os filósofos, nem pouco mais ou menos.
As citações de autoridade são uma espécie de alfinetes de fixação do oceano imenso em que se agita o conhecimento científico (mais pântano do que oceano) e respectiva cogitação epistemológica
E natural que se procurem pontos fixos no movimento perpétuo da vida, "continuum" que não deixa agarrar-se, mesmo por laboratórios e cientistas largamente subsidiados, ainda que iminentes.
A realidade faz sempre uma careta - irracionalmente deita a língua de fora - a quem pretende aprisioná-la. Ou, como faz a erudição universitária a quem queira armazená-la em computador.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
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