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02.07.2007
Ambiente é moda?/TUDO ESTÁ DITO E OS DADOS ESTÃO LANÇADOS
«A moda do Ambiente faz bem ao Ambiente?» pergunta a revista «Pública» em capa, no jornal «Público» de 1 de Julho de 2007. São 10 páginas de prosa que nos desafiam com a pergunta algo provocante:
Será o Ambiente uma moda?
Vou responder à questão colocada, a tempo e horas, pelas jornalistas Clara Barata e Joana Amaral Cardoso:
É, sim senhor, é uma moda.
Mas é também uma nova forma de poder económico e financeiro a que chamei – com propriedade – eco-tecnocracia.
Uma nova forma de reconverter empresas e lucros, aquilo a que se pode chamar eco-oportunismo, como já se verificava – sem grande alarido mediático – com as indústrias de anti-poluentes a fabricarem tecnologia para combater a tecnologia poluente anterior.
A isto chamou Michel Bosquet, nos anos 70 do século passado, uma palavra algo feia: eco-fascismo.
O que se pode chamar ao eco-oportunismo, com bastante propriedade, é uma grande pouca vergonha. Em suma, um eco-merdismo.
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A moda dos partidos verdes insere-se literalmente neste eco-oportunismo, com mais ou menos variantes na nomenclatura utilizada.
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Além de moda, o ambiente é também uma forma de criar novas empresas (verdes), destinadas a lucrar com a exploração maciça dos últimos recursos vivos que ainda nos restam: o caso dos biocombustíveis é o mais dramático, porque vai provocar uma aceleração nos fenómenos de desertificação, fome e regressão na biodiversidade (com as culturas esgotantes), invariáveis que não são de hoje, evidentemente, nem são uma moda. São uma das constantes do sistema que lucra de ir matando os ecossistemas.
Moda do eco-verdismo, no caso dos biocombustíveis, vai sair-nos caríssima, irá colocar Portugal no 1º lugar dos países mais desertificados da Europa, onde já ocupamos o 3º depois da Turquia e da Itália, conforme o viu e cartografou a Agência Espacial Europeia, que vê tudo lá de cima.
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Académicos e universitários das melhores universidades esforçam-se por fazer valer uma palavra mais bonita e cantante, a «sustentabilidade», abreviatura ideal de «desenvolvimento sustentável»: porque ninguém se confessa mas o famigerado desenvolvimento, até agora (até alguém descobrir a sustentabilidade) era apenas o desenvolvimento do subdesenvolvimento: alguns o disseram mas sem eco. Mesmo com o MIT a redigir um longo e chatíssimo relatório, «Os Limites do Crescimento», 1972 e a preconizar o «crescimento zero», a utopia do crescimento zero, forma subtil de fazer abortar a história.
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O Ambiente é uma moda, sim senhor, mas é também uma fraude monumental quando se centraliza toda a campanha mediática no CO2 e nas alegadas alterações climáticas. Qualquer pessoa vê, ouve e percebe que as ameaças globais são muitas, fazem uma infindável lista negra, potenciam-se umas às outras numa rede infernal de interdependências (ecossistemas são interdependências estruturais) e a Abjecção do nosso tempo-e-mundo caracteriza-se, entre outras invariáveis, por nos ter metido em buracos sem saída, enquanto nos manipulam pela overdose, pela megalomania dos mega-planos, pelo vómito.
Reduzir as ameaças globais à treta do clima só pode impor-se através de uma campanha maciça de psicomanipulação de massas, outra das invariáveis marcantes da sociedade de consumo, designada também sociedade do lixo (e do luxo), da abundância para as elites e da penúria para a esmagadora maioria. A engrenagem mais atroz, desumana, estúpida e canalha que o Planeta Terra teve de suportar desde que é habitat de seres vivos e sensíveis.
Esta vertente da campanha verde – persuassão de massas a que prefiro chamar «psicomanipulação» - é evidentemente desagradável e de mau cheiro a qualquer consciência humana, mesmo mediana.
Mas com os mídia a comandar, o falso transforma-se em verdadeiro, o bom em mau, o frio em quente, o tóxico em saudável, o que todos os big brother bem sabem.
Se há justiça e é evidente que há, os poderes responsáveis por toda esta situação irão ser destruídos e terão que ser destruídos.
Talvez tenhamos então um Planeta Azul e lindo onde nos mares haja baleias maravilhosas e no Rio Sado os Golfinhos naveguem e façam as suas cabriolas.
Baleias e Golfinhos não me virão, de certeza, fazer discursos sobre sustentabilidade e CO2.
Uma das ilusões da eco-tecnocracia é que serão eles – os eco-tecnocratas - a sobreviver montados nos seus jactos. Como é mais do que evidente, não irão sobreviver e quem cá ficar o saberá.
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Viriato Soromenho Marques, filósofo e actual assessor de Durão Barroso, algures na Europa, entende que «a nova política do século XXI vai ser a do Ambiente» - conforme disse à revista «Pública»
Duvido: há uma probabilidade contra 99 de haver século XXI e muito menos política do Ambiente.
Viriato devia observar o caso português: não há política do Ambiente, que nunca houve, mas porque toda a «política» que se faz é dirigida, controlada, desenhada pelos lobbies das indústrias verdes, com o governo a assobiar pró ar.
O Viriato não tem tempo de ler os jornais e de se ocupar com estas coisinhas caseiras da capoeira portuguesa. Se me lesse, na Ambio e nos meus sites e blogs, ficaria mais bem informado sobre a discreta mas intensa actividade que o poder económico e financeiro desenvolve para controlar e dirigir a política do Ambiente que não há.
Acho estranho, aliás, o seu alheamento desta crua realidade, já que – saiba-se – o Viriato Soromenho Marques é membro do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável.
E a palavra «sustentabilidade» é hoje o pontapé de saída para aqueles lobbies prosseguirem a sua «política».
Já têm, como o Viriato de certeza sabe, um Anuário que unifica e coordena essa «política». O que é que falta, afinal?
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Tudo, no Ambiente, vai depender do petróleo e das multinacionais do Petróleo, como sempre dependeu e que não abdicam, como é óbvio, de defender os seus interesses.
Mais uma vez, o eterno candidato não deverá ganhar.
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O Ambiente é uma moda, sim senhor, mas é também uma muleta para o milionário Al Gore chegar à presidência dos EUA. E ninguém tem nada a ver com as ambições (legítimas) de cada um. Mesmo que o Ambiente e a salvação da Terra sejam, total e totalitariamente instrumentalizados.
A coisa da moda está bem vista e foi bem apanhada pela revista «Pública» do jornal «Público» (1 de Julho de 2007) : porque moda é o que muda, enquanto a ideia ecológica é o que permanece. Mas isso iremos ver em um segundo episódio deste folhetim.
Se moda significa o que já passou de moda, no caso do Planeta Terra os amanhãs vão ser muito escassos e já não vai haver, como nos bons tempos da guerra fria, os «amanhãs que cantam». Não vai ser uma moda e portanto passageira, como todas, mas um intermezzo breve, antes do Fim.
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É uma moda, sim senhor, a sociedade de consumo no seu melhor - recuperando o que primeiro critica, rejeita e ridiculariza - e o Ambiente como sub-produto do marketing.
A caricatura, o ersatz e o simulacro compõem o quadro deste ambientalismo sazonal e para uso das classes ricas e dirigentes. É a sobremesa do banquete, a cereja no bolo (como os jornalistas gostam de dizer), o intervalo na grande farra para ir à casa de banho.
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Um dos grandes méritos destas 7 páginas da revista «Pública» e das duas jornalistas que redigem os dois artigos – Clara Barata e Joana Amaral Cardoso – é mostrar que tudo, absolutamente tudo o que hoje aparece em nome do Ambiente vai dar aos dólares, aos euro-dólares, ao marketing e à moda.
Desde o eterno candidato a presidente, às vedetas Di Caprio e Cameron Dias, ao Schwarzenegger, «o dinheiro e a classe social podem fazer descarrilar a moda do Ambiente» diz Clara Barata, na «Pública».
Preto no branco, está dito tudo.
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Não escapou à jornalista Clara Barata o neologismo recentemente criado e de que se fez eco a jornalista Lucy Siegle, no «The Observer».
Já tinha este trabalho de casa feito, desde que li o artigo na revista «Courrier International» e aqui deixo as linhas então escritas:
««ECO-SNOBISMO & FEIRA DAS VAIDADES
Haja alguém que ponha os pontos nos iis. Alguém com voz activa nos media de grande alcance. Alguém com algum back-ground de eco-militância e não seja um novo rico do Ambiente. Alguém que corrija algumas discrepâncias produzidas pelo poder incomensurável da manipulação mediática em curso sobre ameaças globais.
E há mesmo: assina Lucy Siegle, escreve no «Newstatesman» ( Londres) e um interessantíssimo artigo seu (fragmentos) aparece no número 107 da revista «Courrier Internacional» (Lisboa), intitulado em português «lamentável snobismo ambientalista».
Eu andava há uns anos desconfiado deste snobismo mas ninguém melhor do que uma jornalista britânica para detectar o cheiro a snob, já que tem mesmo à mão de semear o melhor do género, onde vai abeberar-se: a revista «Vanity Fair».
É um artigo interessantíssimo e cheio de alusões concretas a factos e nomes do jet set internacional.
Entre muitas coisas giríssimas, diz a Lucy minha colega:
«A mensagem ecologista global que hoje circula é, todavia, inquietante: se quiser ser ecologista, convém que seja podre de rico.»
Depois descreve em pormenor «a parada de encantadores ambientalistas da «Vanity Fair». Na capa, Julia Roberts, George Clooney, Robert Kennedy Jr e Al Gore, o maior presidente verde que nunca houve».
Além de lúcida, a Lucy parece-me muito bem informada sobre os bastidores do jet Set, quem é e quem não é gente no meio Ambiente do eco-snobismo.
Ela ganhou mais um leitor e eu ganhei mais um neologismo: eco-snobismo.
Não sei se já disse que adoro neologismos.
Lamento não poder linkar para o site da dita revista «courrier internacional» (Lisboa) mas, como tudo na empresa da dita, os textos estão aferrolhados a sete chaves e o site respectivo é apenas uma montra (bastante deslavada, diga-se de passagem) do conteúdo que se convida constantemente a assinar e a comprar.
Ainda por cima, quando cliquei onde diz «comente a edição desta semana, faça sugestões e dê a sua opinião sobre o Courrier Internacional» fiquei com o computador bloqueado e só por um triz não chamei os bombeiros: tive que reiniciar e saí da dita (maldita) página mais depressa do que saí.
Mas o artigo da Lucy, esse, vou emoldurá-lo. Um grão de areia neste deserto mediático.
Um beijinho para a Lucy.
Post Scriptum:
Aleluia, aleluia. Fui à fonte – o semanário «Newstatesman» – e encontrei, na íntegra, o artigo da Lucy.
Ei-lo aí, não sei se ainda funcionará:
http://www.newstatesman.com/200605010018
Se for preciso mandem o robô traduzir. Mas aproveitem esta boa oportunidade de estarmos bem informados sobre o que importa: a ideia ecológica e as diversas máscaras que hoje a revestem.
sábado, 8 de novembro de 2008
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