1-2- ideologia-3> os dossiês do silêncio
O COMPUTADOR NA GUERRA DE NERVOS(*)
24/4/1981 - Em artigo já publicado n'«A Capital», falávamos nós sobre o sistema de alerta dos Estados Unidos, comentando precisamente a tendência que esse sistema tem para avariar... nos momentos de crise. Dois dias depois, deparávamos com outra notícia da France Press, que a seguir transcrevemos.
Sentimo-nos relativamente compensados desta árdua batalha de ler e compreender a actualidade no que ela tem de permanente, para lá das ilusórias fantasias a que os factos, desligados do seu contexto coerente, nos podem conduzir. E regra geral conduzem, induzindo a opinião pública em erro ou engano sistemático sobre o que se passa no planeta Terra.
A notícia que a seguir se comenta e depois transcreve tem interesse a vários níveis.
Assinala um dos pontos cruciais onde informação o Informática se cruzam.
Assinala de que maneira a informação prepara o terreno à invasão e à política da Informática, reabrindo de novo, e sempre que necessário, os mercados a novas vagas de computadores.
Assinala como o sistema usa uma publicidade especial (notícias de agência, por exemplo) para fazer render esta mercadoria também especial e excepcional que se chama «computador».
A firma precisa de vender mais uns milhares de computadores e, pressionando os meios do Pentágono, começam a exalar-se notícias (como esta) que, aparentemente, vão contra a sagrada imagem de prestígio e dignidade dos mais altos poderes dos Estados Unidos.
Mas o próprio Pentágono tem vantagem em ver substituído o velho «Wimex» por um «Wimex» nova vaga.
De que maneira essa publicidade disfarçada serve ainda a guerra de nervos declarada à população humana?
Estando o computador em questão, no centro nervoso dos litígios bélicos entre os E. U. A. e a U. R. S. S., é evidente de que maneira uma avaria em tal sistema pode colocar a humanidade num verdadeiro «estado de sítio» nervoso, de que maneira uma simples notícia sobre o computador do Pentágono prestes a provocar uma guerra nuclear mundial, constitui afinal mais uma poderosa arma na área da guerra fria.
A notícia é ainda significativa porque levanta a questão de uma leitura que a opinião pública faz dos factos que lhe contam, e uma outra leitura completamente diferente dessa que é possível fazer-se, desde que outras hipóteses de estudo e trabalho sejam postas na mesa.
E agora a notícia:
«WASHINGTON, 10 - O gigantesco sistema informático destinado a prevenir o Presidente americano em caso de ataque inimigo ou de crise internacional, está sujeito a avarias nos momentos mais críticos, soube-se domingo de fonte informada.
«Este sistema, baptizado "Wimex", consiste em uma série de computadores instalados no mundo inteiro, nomeadamente nas bases militares americanas, e ligados por uma rede complexa. Ele permite ao Presidente e aos chefes militares serem alertados em caso de ataque inimigo ou de crise tal como a ocupação de uma embaixada.
«Wimex» fornece informações actualizadas sobre as forças americanas e sobre as possibilidades de resposta a diversas situações. Uma vez as decisões tomadas, ele transmite aos comandos militares ordens para que pessoal, armas, equipamentos e meios de transporte cheguem a tempo ao lugar requerido.
«O sistema, eficaz em tempo normal, já várias vezes tem funcionado mal, no entanto, quando os chefes militares têm tido necessidade de respostas rápidas a uma série de perguntas, segundo informações recolhidas no Pentágono e no departamento da Contabilidade Geral (General Accounting Office).
«Segundo tais informações, houve pelo menos duas ocasiões graves em que se avariou: em 1975, nomeadamente, durante a operação realizada conjuntamente pela Marinha, a Aviação e os «marines» para libertar a tripulação do navio mercante americano "Mayaguez", que fora capturado ao largo do Camboja.
No Departamento da Defesa reconhecem-se estes problemas, mas afirma-se que existem, em caso de ataque nuclear, dois outros sistemas mais rápidos para prevenir o Presidente. Segundo outras fontes, porém, pelo menos um destes sistemas sofre de frequentes interrupções de energia.
«O "Wimex", concebido por Honeywell nos anos 60, era um "bom sistema para essa época", acrescentou um especialista do Pentágono, mas "não pode responder às necessidades dos anos 80". De fonte oficial, espera-se que possa ser substituído daqui a 4 ou 7 anos.»
,
A SOCIEDADE INDUSTRIAL «ENFORCADA» NOS SEUS PARADOXOS
NIXON DIXIT - Algumas contradições são tão evidentes que até cegos notam...
Sobre o paradoxo de uma «civilização» que manda astronautas à Lua e não consegue resolver os engarrafamentos na cidade, até Nixon notou: « Não é normal que os nossos sábios tenham conseguido mandar três homens para a Lua, transportar três homens a 390 000 quilómetros de distância, e não sejam capazes de transportar todos os dias convenientemente trezentos e noventa mil homens de suas casas para os locais de trabalho..
A GUERRA PARA EVITAR A GUERRA - Haverá mais chocante e brutal contradição do que a Paz que se conserva com a Guerra, reforço de armamento a colossais voragens de dinheiro em investigações bélicas?
A guerra - como a poluição, o esgotamento de recursos, os acidentes rodoviários, etc - já por si seria monstruosa faca à consciência humana.
Mas o que a torna n vezes monstruosa, é que seja um produto fatalmente segregado, como necessidade interna, pelo sistema e que este não pode deixar de segregar para continuar a ser o que é.
Paradoxo vertiginoso: o sistema tem que se suicidar para não se suicidar.
- - - - -
(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 24/4/1981
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário