IDEIAS AC 2012

68-03-12-di> = diário de um idiota iludido – inédito ? ac de 1968

PENSAR O SIMULTÂNEO NOS ESTUDOS DE ANTROPOLOGIA

12/3/1968 – Nas ciências humanas - quer tratem do indivíduo, quer tratem de grupos sociais mais ou menos complexos - o pensamento binário que se exerce por antinomia e exclusão tem revelado o seu fracasso e a sua impotência. Procura-se de facto, uma dialéctica, ou - quem sabe? - uma trialética : no mais simples fenómeno "vivo" convergem simultaneamente factores de tantas e variadas procedências que terão de ser considerados (pensados) simultaneamente, sob pena de escapar à compreensão o fenómeno considerado. É sempre outro o que acaba por ser conhecido, e nunca ele.
Este problema de convergência simultânea vem ligar-se a um velho erro de metodologia, que consiste em destacar as partes até isolá-las do todo, quando se trata de estudar o todo (o vivo) e não as partes ( mortas) .
É vulgar que um observador se julgue competente quando actua no seu campo, desdenhando, por sobresuficiência, campos directamente relacionados. É vulgar, também, a incoerência dos que se dizem convictos de uma ideia quando a imediatamente vizinha já lhes não interessa, e por vezes ostensivamente. Quantos, que estudam a Educação Física, passam por cima de todos os problemas postos pela Higiene, ou Educação sanitária, ou Educação intelectual. .
Afinal, tudo se liga a tudo, e verdadeiro pensador é o que religa constantemente o que o especialista constantemente desliga. Se os computadores trazem alguma esperança ao caos da Informação, e algum avanço verdadeiro às técnicas de organização do conhecimento, será na possibilidade de pensar simultaneamente os vários factores que interferem num evento, facto, acontecimento ou fenómeno.
A causalidade linear, a que o pensamento binário do cérebro humano deu consequente solução, é substituída, nas ciências humanas por uma causalidade múltipla; a falta de instrumento metodológico adequado explica o atraso destas ciências, ou os equívocos que nelas abundam: com suas consequências bem trágicas (históricas) na Política, na Economia, na Educação - enfim, em todas as actividades normativas ou ciências aplicadas, que das respectivas ciências puras dependem.